Por Fabio Campos
Texto
base: “Mas entre vós
não será assim...” – Marcos 10.43
Dias
atrás, fui surpreendido pela postura (neófita) de um líder cristão já avançado
em idade. Ele olhou minha barba, minha bermuda, e perguntou se era deste modo
que eu congregava (o detalhe é que não estávamos dentro de uma igreja).
Contornei
a situação e levei na brincadeira, pois de outro modo, caso entrasse na
provocação, reduziria o cristianismo (em rudimentos: Cl 2. 20-23) como aquele
irmão havia feito. Ou seja, o conceito de mundo para ele se restringe ao tipo
de roupa que se veste ou o estilo de música que se ouve.
Pois
bem.
Muito
se fala que o mundo entrou na igreja. Ao pedir uma explicação a respeito desta
afirmativa, sempre me deparo com argumentos simplistas e desprovidos de
respaldo bíblico. Para este pessoal, o mundo entra na igreja quando o louvor é
tocado através da guitarra (como se Deus tivesse preferência musical); ou pela
moça que usa maquiagem; ou pelo rapaz que deixa a barba crescer.
Por
estas e outras explicações se faz notório que o amparo deles para fundamentar
seus pré-conceitos é exclusivamente “moral”
baseado tão somente em “usos e costumes”.
O
evangelho de Marcos narra uma situação onde Cristo mostra o que, com efeito, é ser
diferente do mundo (10. 35-45).
Os
irmãos Tiago e João, se aproximaram de Jesus e lhe pediu que, em seu reino,
ambos se assentam com Ele; um à sua esquerda, e o outro, à sua direita. Porém,
a glória do evangelho para a igreja não está em assentar-se com Cristo em seu
reino futuro, mas sofrer por Ele nesta terra. Antes de julgar o mundo, Cristo
nos chama para participarmos dos seus sofrimentos (1 Pe 4.13).
Jesus,
porém, disse que eles não sabiam o que estavam pedindo. Ao afirmarem que
poderiam “beber do cálice” que Jesus beberia, e ser “batizado no batismo” que
Jesus seria batizado, o Senhor diz que se fosse da vontade do Pai, eles se
assentariam no trono.
Quando
os outros discípulos ouviram o parecer de Jesus a respeito disto, houve um
grande tumulto. Picuinha na igreja da galileia! Todos ou outros ficaram bravos
com Tiago e João.
Eles
já estavam brigando entre si para saber e provar quem de fato era o maior.
Todos os discípulos estavam bem vestidos; cantavam os salmos; observavam o dia
do Senhor; liam as Escrituras; mas o mundo estava entrando na igreja dos galileus:
Jesus os chamou e disse: "Vocês
sabem que aqueles que são considerados governantes das nações as dominam,
e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. Não será assim entre vocês. Pelo contrário, quem quiser
tornar-se importante entre vocês deverá ser servo; e quem quiser ser o primeiro
deverá ser escravo de todos. (Mc 10: 42-44).
O
poder é sedutor (independentemente do seguimento, inclusive na igreja), pois viabiliza
o caminho para dominar o próximo.
O
mesmo desejo que havia entre os governantes e gentios – em chegar ao poder para
controlar as pessoas – estava também no seio da igreja. Jesus, então, corrige a
rota e diz que mundanismo é buscar o topo da hierarquia, conforme era o costume
dos pagãos, para que, ao invés de servir, angariar o privilégio de ser servido.
Neste
instante o Senhor colocou o mundo de cabeça para baixo; quem quiser ser importante, que sirva aos outros, e quem quiser ser o
primeiro, que seja o escravo de todos.
Jesus
mostrou na prática esta lição. “Pois nem
mesmo o Filho do homem veio para ser servido” (Mc 10.45). No reino de Deus
só há um Rei; todo o resto é súdito. O extraordinário disto tudo é que este Rei
se fez Servo justamente para servir seus servos; mesmo assim, Ele nunca deixou
de ser Senhor (Lc 12.37).
Você
vai perceber, portanto, que não é a comida, bebida ou roupa que faz de alguém
um mundano (evidente que há jeito certo de usar estas coisas, porém não da forma
imposta pelos legalistas). O que nos torna parecidos com o mundo, como disse
Jesus, é a busca pelo poder; é a moça que deseja casar com o irmão não por
causa do seu caráter e piedade, mas pela sua posição de destaque na igreja. O
mundo entra na igreja quando o irmão que, ao invés de olhar para a virtude da
moça, prefere analisar a adereça do vestido que destaca as suas curvas.
Quando
aquele senhor cristão olhou com desdém para a minha vestimenta, mal sabia ele que
eu conhecia um pouco dos bastidores da igreja que ele pertencia. Uma
denominação embriagada pelo poder, ao ponto de estar em litígio entre os
próprios irmãos – por meio da justiça comum – para levar ao topo da pirâmide os
“reclamados”.
E
é a barba ou a bermuda que fazem de alguém mundano. Lamento dizer, mas isto é
demoníaco.
Caso
eu não conhecesse a Bíblia, certamente me faria escravo deste tipo ensino (1 Co
7.23). Mas a verdade, que vem pelo estudo das Escrituras, me libertou. Deus é
INFINITAMENTE maior do que a mente humana.
A
respeito disto, reflita comigo e pense se Deus é pequeno como essa gente
demonstra com este tipo de atitude.
Os
cientistas dizem que há no universo um número de estrelas maior do que o número
de todos os grãos de areia de todas as praias e de todos os desertos do
planeta. Assustador, não!? No dia que você for à praia, experimente levar um bocado
de areia em suas mãos; depois jogue esses grãos em cima de uma mesa de vidro e
tente contar quantos grãos de areia você conseguiu apanhar.
Por
um instante pare de ler e olhe para céu (pois todos estes planetas são
simplesmente enfeites da casa de Deus Sl 19.1).
Voltando.
Há
mais estrelas no universo que grão de areia em todas as praias do planeta
(pense no tamanho de cada planeta). Quantos grãos de areia será que você
consegue apanhar? O detalhe mais fantástico é que Deus conhece cada estrela
pelo nome (Sl 147.4).
Com
toda essa grandeza (que é assustadora), estou convencido de que Deus está
preocupado com a minha bermuda e com a maquiagem da irmã, entre tantas coisas,
como, por exemplo, se é certo ou não tocar hinos na guitarra invés de usar o
piano.
Risos...
Não
é o tipo de música e nem o estilo da vestimenta quem faz o mundo entrar na
igreja. O mundo entra no seio da igreja quando líderes e membros disputam entre
si para ser o maior. Isto tudo se dá quando caiamos no galanteio do Diabo, que nos
faz acreditar que somos estrelas no Corpo de Cristo.
Afinal,
o que é mundo e quando é que ele entra na igreja?
A
Bíblia chama de mundo o “desejo da carne”,
o “desejo dos olhos” e o “orgulho dos bens” (1 Jo 2. 16).
Se
você usa terno ou é aderente do coque, mas estas coisas existem em você, o
rapaz cheio de tatuagem e de bermuda, porém convertido a Cristo, é muito mais
cristão do que você. Num contexto parecido, acusado de mundano pelos religiosos
fundamentalistas de sua época, C. S. Lewis dizia que “ele era um pagão convertido no meio de puritanos apóstatas”.
Compartilho um pouco deste sentimento.
Fiquemos
com as Escrituras Somente:
“... o Senhor não vê
como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor
olha para o coração”. – 1 Samuel 16:7
Em Cristo
Jesus, considere esta reflexão e arrazoe isto em seu coração.
Soli Deo
Gloria!
Fabio Campos
“A folha branca é o meu púlpito principal.”
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