Por Fabio Campos
Texto
base: “E mandou Davi
indagar quem era aquela mulher; e disseram: Porventura não é esta Bate-Seba,
filha de Eliã, mulher de Urias, o heteu? Então enviou Davi mensageiros, e
mandou trazê-la; e ela veio, e ele se deitou com ela...”.
– 2 Samuel 11: 3,4 (AFC)
Quando
me perguntam qual o meu herói favorito no Antigo Testamento – para surpresa de
muitos – digo que é Urias, o heteu. Urias foi mais um dos justos injustiçado
neste mundo de cão. A tragédia se torna ainda mais dramática pelo fato da crueldade
ter sido praticada não pelas mãos do ímpio, mas de um justo, o rei Davi.
Urias
é meu referencial não por causa da habilidade com a espada, mas por seu caráter
e por sua hombridade. Ele era viril segundo os padrões de Deus. O “mano” foi valoroso
frente a “molecagem” de Davi.
Urias
significa “minha luz é Yahweh”; o
herói da nossa reflexão, com efeito, fez valer o significado.
Urias
era estrangeiro, heteu, que pertencia ao seleto grupo dos heróis de Davi (2 Sm
23.39; 1 Cr 11.41); residia em Jerusalém, vizinho do palácio real (pois sua
casa era possível de ser avistada do palácio [2 Sm 11.2]).
Tanto
o seu nome como a sua conduta sugerem que ele havia abraçado a religião
hebraica (2 Sm 11.11). O hitita lutava sob as ordens de Joabe, comandante das
tropas de Davi. Certa vez, quando Urias estava na guerra, o rei encontrava no
terraço do palácio e, ao olhar para baixo, viu Bate-Seba, esposa do soldado,
banhando-se. Davi desejou-a ardentemente, mandou trazê-la e engravidou-a (1 Sm
11. 1-5). O rei ordenou que Urias retornasse a Jerusalém, na esperança de que
dormisse com a esposa e lhe evitasse assim a situação embaraçosa.
Ao
chegar da guerra a mando do rei, Urias recebe a ordem de Davi que fosse para
casa descansar e dormir com sua esposa. Urias, sem falar nada, saiu da
presença do rei e, o invés de ir para o conforto do seu lar e deliciar-se com os
carinhos de sua esposa, preferiu dormir à porta do palácio
real.
Urias
recusou tal privilégio que seus companheiros de exército não teriam. Sua
preocupação era com a Arca e com o povo de Israel. As investidas de Davi para
fazer com que ele dormisse com Bate-Seba não deram certo. Mesmo embriagando-o,
o valente Urias honrou sua convicção: novamente dormiu com os servos.
Exasperado,
Davi o enviou de volta à frente da batalha, com uma recomendação ao comandante
Joabe para colocar Urias na linha de frente no cerco à cidade de Rabá, o que
acarretou na sua morte. O rei Davi, então, toma Bate-Seba para ser sua esposa.
O que parecia ser louvável a todo Israel (ainda ninguém sabia o que de fato
havia acontecido), cheirava mal perante o Senhor Deus (2 Sm 11.27).
Urias
foi apagado pelo homem, mas elogiado por Deus.
Com
efeito, a disciplina e fidelidade de Urias são dignas de ser imitadas por todo
aquele que verdadeiramente leva Deus a sério. Quanta virtude há neste homem que
morreu sem saber da trama que foi levantada contra ele.
Sem promover a fidelidade aos seus camaradas
de guerra, Urias não esperou “sentir de Deus” para entender que naquela ocasião,
ainda que fosse lícito, não convinha dormir com sua esposa. A fé
de Urias não era pautada em emoções ou em expectativas de triunfos, mas
em princípios: “Pela tua vida, e
pela vida da tua alma, não farei tal coisa” (2 Sm 11:11).
A
voz da consciência de Urias falou mais alto que a ordem do rei: “Porém Urias se deitou à porta da casa real”
(2 Sm 11.9a). Ele se abdicou do prestígio daquele
privilégio e preferiu dormir com os servos de Davi: [pernoitou] “com todos os servos do seu senhor; e não desceu à sua casa”
(2 Sm 11.9).
Urias,
como um bom soldado, era disciplinado e rigoroso
consigo mesmo. Ele sabia que o seu chamado era o de proteger Israel.
Diferente de Davi, Urias sabia que sua espada seria enfraquecida caso cedesse
aos desejos do seu coração: “... mais
vale controlar o seu espírito do que conquistar uma cidade” (Pr 16.32).
O
heteu era obediente (v.12); porém fazia apenas aquilo que era correto. Mesmo
sob influência do vinho, Urias foi mais disciplinado e leal do que Davi, que
estava sóbrio (v. 13).
O
hitita é o tipo de gente que podemos confiar o tempo todo. Você poderia deixar,
por exemplo, sua esposa a sós com ele sem nenhuma preocupação de haver dele
algum galanteio. Não havia suspeita na vida deste guerreiro. Era o tipo de
servo que não vasculhava a gaveta do seu patrão. Sem abrir o envelope entregue
por Davi direcionado a Joabe, Urias levou sua própria sentença de morte (14-15).
Urias
não tinha medo de nada exceto de Deus. Sem retrucar ou pedir explicações,
sabendo do perigo de morte por ser o “linha de frente” na batalha, obedeceu ao seu
comandando; porém, desobedeceu ao rei quando ordenou que dormisse com sua
esposa.
Quanta
virtude! Cadê os homens deste quilate?
Joabe
não viu com bons olhos a orientação de Davi mas obedeceu ao rei (v.25). Colocou
Urias na linha de frente e, no calor da batalha, conforme planejado, Urias foi
morto.
Aparentemente
o plano de Davi foi bem sucedido. Com indiferença, recebeu a notícia da morte
do heteu: “Não fique preocupado com isso,
pois a espada não escolhe a quem devorar” (2 Sm 11.25). Bate-Seba, porém,
chorou a morte de seu marido.
O
desejo descontrolado de Davi e sua pervertida atitude destruiu a família de
Urias. Com isto, o rei trouxe desgraça sobre Israel e sobre sua família. Quanta
desgraça por causa de um simples olhar onde por tudo começou.
Quando
tudo estava sob o controle do rei, após alguns meses, Deus resolve tratar com
Davi e honrar a memória de Urias. O profeta Natã é enviado ao rei para
repreendê-lo. Com uma história contada na pessoa de um terceiro, o rei sem
saber que este homem mal se tratava dele mesmo, cravou sua própria sentença:
“Então,
Davi encheu-se de ira contra o homem e disse a Natã: "Juro pelo nome do
Senhor que o homem que fez isso merece a morte! Deverá pagar quatro vezes o
preço da cordeira, porquanto agiu sem misericórdia. “Então Natã disse a Davi: "Você é esse homem!” – 2 Samuel
12:5-7
Davi
sofreu graves conseqüências por causa do seu pecado.
Desde
então a família do rei viveu em guerra; seus filhos se deitaram com as concubinas
do próprio Davi; houve muita contenda entre seus filhos, e um estupro por meio do
incesto entre os irmãos Amnon e Tamar, filhos do rei. Deus, porém, perdoou Davi
por haver ele confessado o seu pecado publicamente (ver salmo 51).
Infelizmente
o mundo é atraído pelo carisma, e não pelo caráter. Urias não foi uma
personagem de destaque nas Escrituras, mas não tenho dúvida que Deus o
considera um herói.
A
maior tentação dos cristãos não é o desânimo dos fracassos, mas o anseio pelo
sucesso. É aqui que todos aqueles que se deixam levar comem nas mãos do diabo
(Mt 4.8). O sucesso pode nos dar privilégios
– como tinha o rei Davi – porém facilita a possibilidade de adquirir também aquilo
que não nos pertence. Como disse Charles Haddon Spurgeon, considerado o
príncipe dos pregadores: “Com muito mais
frequência o cristão envergonha sua fé na prosperidade do que na
adversidade."
Que
Deus nos guie e nos livre não somente do mal, mas de não sermos o agente do mal
na vida de alguém.
Em
Cristo Jesus, considere este artigo e arrazoe isto em seu coração.
Soli
Deo Gloria!
Fabio Campos
“A folha branca é o meu púlpito
principal.”
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Bibliografias:
O Novo Dicionário da Bíblia, Vol 1 e 2. São Paulo, SP; Edições Vida Nova, 1984
Quem é quem na Bíblia Sagrada. Editado por Paul Gardner. Editora Vida Acadêmica.
São Paulo, SP