Por Fabio Campos
Texto
base: “Mas o que para mim era lucro, passei a considerar
perda.”
– Filipenses 3.7
É
raro encontrar alguém que defina biblicamente o que é conversão. Muitos
confundem o seu resultado com o ato do que de fato ela representa.
É
interessante ponderar sobre a conversão do apóstolo Paulo.
Ele
não era um sujeito imoral (do ponto de vista social e religioso). Seu pecado
não era a boêmia, a noitada, o mulherio. Seu mundanismo não era oriundo de uma
vida pródiga, mas do orgulho de sua “pregressa piedade”. Paulo, do ponto de vista
da lei era irrepreensível; também era um bom cidadão; além de ser exemplo para
qualquer um de seus compatriotas.
O
passado ímpio do apóstolo, todavia, é justamente o testemunho de muita gente
dos nossos dias. Seus deveres religiosos eram devidamente cumpridos. Mas do que
Paulo tinha que se arrepender?
Perceba
o discurso da grande maioria; falam mais do que fizeram para Cristo do que aquilo
que Cristo fez por eles.
Paulo
mantinha sua segurança no realizar
dos afazeres ministeriais e na virtude
das boas obras. Era disto que ele se arrependeu. Muitos, porém, se gabam
justamente do que Paulo considerou perda. Ou seja, apoiam-se em suas obras de justiça
(Fp 3. 4-9).
Afinal,
o que é conversão?
A
primeira coisa que precisa ser definida é que conversão não é moral, mas
ontológica. A moral (e não moralismo) é simplesmente o resultado da nova criatura
que foi gerada em Cristo (2 Co 5.17). A primeira coisa que deveria ser dito num
testemunho não é o que você é, ou faz hoje, mas como Deus te convenceu do
quanto a sua justiça (aquilo que você confiava para salvação) se tratava de esterco
(excremento humano, porção do alimento rejeitado pelo organismo como não
nutritivo e que deve ser expelido).
Por ignorância
da sã doutrina, quando Cristo me converteu a Ele, logo de inicio fui radical
com coisas que hoje tolero (usos, costumes e
ingestão de alimentos em geral), e tolerava coisas que hoje sou radical
(doutrinas espúrias). Pelo estudo das Escrituras fui convencido de que o Reino
de Deus não consiste em “coisas”, mas pessoas que verdadeiramente tiveram um
novo nascimento; nascidas não de descendia natural, nem pela vontade de algum
homem, mas de Deus (Jo 1. 13).
Não se
trata do que você come ou do que você bebe; mas de justiça, paz e alegria no
Espírito Santo (Rm 14.17).
Muitos
chamam de pecado o que Deus fez para ser desfrutado. A Bíblia chama esses “mestres” de
hipócritas e mentirosos, que têm a consciência insensível (1 Tm 4.2). E é aqui
que entra o ponto que ofusca o verdadeiro sentido ontológico do resultado da conversão.
Baralhar santificação com rigor ascético, abstendo até de prazeres legítimos; proibir
o que Deus criou para nosso deleite e para o louvor da sua glória (1 Tm 4.3; 1
Co 10.31). Muitos religiosos taxariam de mundano as festas realizadas sob
orientação do próprio Deus no meio do seu povo (Dt 14.26).
Conversão passou a ser “não tocar” nisto; “não
provar” aquilo; “não manusear”
tal coisa. De fato, como diz a Escritura, isto até tem aparência de santidade;
mas só aparência, pois não tem valor algum no combate contra os desejos que
realmente são pecaminosos (Cl 2. 20-23).
Os legalistas, no entanto, dizem ser certo
justamente o que Deus abomina (opressão em nome da lei). Seita procede
exatamente deste modo. Rígidos para com o corpo e laicos na doutrina, que
poderia libertar as pessoas do fardo pesado colocado sobre seus ombros.
O Senhor é traído não quando caímos pela
fraqueza da carne. Deus é traído quando nos apartamos da simplicidade e pureza
devidas a Cristo; quando abraçamos outro evangelho; quando prestamos culto a um
"deus" estranho (tipo mamon, o “deus” da teologia da prosperidade).
Isto é traição!
A
conversão, portanto, está muito além da mera mudança de comportamento. A
conversão bíblica consiste primeiramente em abandonar por completo sua própria
justiça para lançar-se por completo, por meio da fé, na justiça de Cristo (Ef
2. 8-9). É descansar no sacrifício vicário de Jesus; se trata em renunciar
nossa auto-suficiência e pretensioso orgulho de cumprir a lei (Fp 3.3).
O
que importa não é isto ou aquilo; guardar o sábado; deixar de comer ou beber certos
alimentos. Nada disto valerá se, contudo, você não for nova criatura. Estamos
firmados e confirmados numa Pessoa. Não é a obediência de regras ou a observação
de determinada tradição que nos fará aceitáveis diante de Deus. É Cristo Jesus,
justiça nossa. É n’Ele e em nada mais. Ele é tudo para aquele que sabe que não
possui nada.
Se
você ainda se apóia no seu desempenho religioso; no fato de se abster, por
exemplo, do álcool e de certos alimentos – você até pode ser um bom moço ou
moça, mas você ainda não é um genuíno cristão. O Evangelho de Cristo incomoda
os libertinos tanto quanto incomoda os legalistas. Os libertinos esquecem Deus;
os legalistas tentam ser Deus.
Portanto,
conversão é ter em Cristo toda a confiança, é ser achado n”ele, não tendo por
justiça as nossas obras, mas sim a justiça que procede da fé no Salvador, a
saber, a justiça que vem de Deus. O fim da lei é Cristo para a justificação do
todo aquele crê.
Em Cristo Jesus, considere esta reflexão e arrazoe isto em seu coração.
Soli Deo Gloria!
Fabio Campos
“A
folha branca é o meu púlpito principal.”
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