Por
Fabio Campos
Um
dos primeiros conceitos apresentados em “economia” é o “homo economicus”, que diz que o homem procurava trabalho não
porque gostava dele, mas como um meio de ganhar a vida através do salário que o
trabalho proporciona. Em suma, o homem é motivado a trabalhar pelo medo de
passar fome. O dito do seu Madruga, uma
das personagens do seriado do Chaves, explica de forma clara este conceito: “Não existe trabalho ruim; o ruim é ter que
trabalhar”. Risos...
Quando,
porém, alguém se converte a Cristo, toda sua vida gira não mais em torno de sua
própria vontade; o alvo agora é outro: “...
agradar àquele que o alistou...” (2 Tm 2.4). O que
isto significa? Significa que tudo o que fizermos de hoje em diante deve trazer
glória para Deus (1 Co 10.31). O engrandecimento pessoal deve ser rejeitado se
a glória de Deus não for o alvo de todas as buscas e anseios.
A
principal função de um servo de Deus é ser um embaixador de Cristo onde ele se
encontra (2 Co 5.20). As obras das nossas mãos, antes de tudo, são para servir pessoas
que precisam do seu trabalho trazendo glória para o Pai que está nos céus (Mt
5.16). A prestação do bom serviço deve ser a motivação de todo aquele que
deseja viver para a glória de Deus, e não o lucro.
Com
efeito, o secularismo entrou nas igrejas evangélicas. A teologia da prosperidade
não vê o trabalho como um fim em si mesmo, como meio de servir a Deus e ao
próximo, mas um meio para de adquirir riquezas. C. S. Lewis foi muito feliz ao
dizer que, a importância da modernidade está em comprar e vender (principalmente
vender) coisas quando o foco deveria ser em produzi-la ou usá-las. Infelizmente
o lucro é quem dita às regras.
Grande
parte das pessoas busca satisfação somente em resultados. São pessoas (e talvez
a maioria da população) que não consegue contentamento no processo. Esperam
vinte e nove dias dentro de um mês para poderem se alegrar. São pródigas com a vida; esquecem com
facilidade que ela é curta (Sl 90.10). O que deveria trazer alegria, isto é, o
trabalho em si mesmo, traz ansiedades. Vivem de resultados. Uma série de
problemas de saúde nasce deste estilo de vida; depressão, síndrome do pânico,
gastrite e etc.
Deus,
porém, quando nos criou, colocou em nós o senso de sermos “frutíferos” (Gn
1.28). Ou seja, o que traz alegria não é o resultado, mas a construção dele.
Focar apenas no resultado traz ansiedade; enquanto que no dever cumprido há
alegria.
Em
Latim, a palavra felix (genitivo
felicis) – originalmente quer dizer “fértil”,
“frutuoso” (“que dá frutos”), “fecundo”. A sensação de bem estar no
fim do dia provém do “dever cumprido” e não dos resultados. Quer ser feliz no
seu trabalho? Tenha alegria no “processo”
e deixe um pouco de lado o “resultado”.
Lembre-se que o resultado é simplesmente a conseqüência do processo.
O
que motiva o cristão em sua labuta não são os resultados, mas a glória de Deus.
Seu objetivo não é o sucesso, mas a fidelidade e integridade na construção de
uma vida.
Muitos
entendem que o trabalho foi o castigo aplicado por Deus ao homem em
conseqüência da desobediência; mas isto não é verdade. A primeira pessoa que
trabalhou na história (e continua trabalhando) foi o próprio Deus (Jo 5.17). Ele
que é infinito em poder e criação, e que não se cansa, após ter criado tudo,
descansou (Gn 2.2). Descansou não porque estava cansado; mas porque era hora de
desfrutar de tudo o que havia feito para a Sua glória.
O
Senhor foi criando, porém, somente no final Ele ponderou acerca da qualidade do
processo: “E Deus viu
tudo quanto fizera, e era muito bom” (Gn 1.31). Em Deus não há aflição
de espírito por resultados. Faça bem o que deve ser feito e entregue os
resultados a Ele: “Pois
comerás do trabalho das tuas mãos; feliz serás, e te irá bem”
(Sl 128.2).
Algo
me deixa perplexo: o Criador dos Céus e da terra ao vir neste mundo escolheu
uma profissão pouco notada. A mão que fez o lindíssimo “Corcovado no Rio de
Janeiro” foi a mesma que fez mesas e cadeiras em Nazaré (Mt 13.55). Aquele
Carpinteiro que talhou diversas mobílias é o mesmo que sustenta o universo com
o poder da sua Palavra (Hb 1.3). Jesus nunca ligou para status. Ele Sempre foi
(Jo 8.58). Quem deseja notoriedade é porque ainda não é. Disto surge a
necessidade de se provar para conseguir sua própria aprovação: “... todo trabalho e todo êxito
procedem da inveja entre as pessoas” (Ec 4.4).
Pela
a glória de Deus trabalhos para prover nossas necessidades e as dos nossos. Não
somente Jesus, mas o apostolo Paulo, por exemplo, demonstraram que um trabalho
humilde, realizado com felicidade, vale muito mais do que qualquer fortuna. Isto
é nobreza: “E,
como era do mesmo ofício, ficou com eles, e trabalhava; pois tinham por
ofício fazer tendas” (At 18.3).
Trabalhamos
para ajudar os necessitados (At 20. 34,35) e para não ser incômodos a ninguém: “Porque bem vos lembrais, irmãos,
do nosso trabalho e fadiga; pois, trabalhando noite e dia, para não sermos
pesados a nenhum de vós, vos pregamos o evangelho de Deus”
(1 Ts 2.9).
A
Escritura condena a inquietude (1 Ts 4.11); um dos mandamentos é “não andar ansioso por nada” (Mt 6.25).
A busca desenfreada por resultados, status, fama, dinheiro é condenada por
Jesus: “Tenham
cuidado, para que os seus corações não fiquem carregados de libertinagem,
bebedeira e ansiedades da vida, e aquele dia venha sobre vocês inesperadamente”
(Lc 21.34).
Que proveito tem o homem, de todo
o seu trabalho, que faz debaixo do sol (Ec 1.3)? As pessoas
que conquistaram tudo, entretanto, freneticamente, no limite – não sabem responder
isto. Possuem até argumentos, mas não passa de meros clichês.
Fazer
da vida apenas um meio para buscar a “felicidade” em resultados é correr atrás do vento; é comer para trabalhar e
trabalhar para comer. Deus não nos criou para sermos feliz amanhã, mas hoje.
Hoje foi o dia que o Senhor preparou.
Quem
viver e trabalhar para a glória de Deus experimentará algo que nenhum cargo
poderá proporcionar:
“Para
o homem não existe nada melhor do que comer, beber e encontrar prazer em seu
trabalho. E vi que isso também vem da mão de Deus.” – Eclesiastes 2:24
(NVI)
O
pastor puritano Jonathan Edwards, vivido no século XVII, dizia que, a glória de
Deus e a felicidade do homem não são dois objetivos principias; em vez disso,
esses dois objetivos são um só. Isso significa que se a glória de Deus for alcançada
nos afazeres, todos os desejos estarão satisfeitos; mas se a glória de Deus for
perdida no processo, nossa alma se encherá de angústia.
Portanto, vá,
coma com prazer a sua comida, e beba o seu vinho de coração alegre, pois Deus
já se agradou do que você faz. – Ec 9.7.
Quer
ser feliz também no seu trabalho, por mais “ruim que ele possa parecer”? Viva e
trabalhe para a glória de Deus
Em
Cristo Jesus, considere este artigo e arrazoe isto em seu coração.
Soli
Deo Gloria!
Fabio Campos
“A folha branca é o meu púlpito
principal.”
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