Por Fabio Campos
Texto base: “No qual havia de todos os animais quadrúpedes e
feras e répteis da terra, e aves do céu. E foi-lhe dirigida uma voz: Levanta-te, Pedro, mata e come.” - Atos
10:12,13 (AFC)
INTRODUÇÃO
Há diversas vertentes que tomam como regra a abstenção de carnes e
produtos que envolvem, no seu processo de fabricação, o uso de animais. O veganismo e o vegetarianismo talvez sejam as principais. Em suma, o vegetarianismo pode ser adotado por algumas
razões, como, por exemplo, a questão ética, saúde ou religião; o veganismo, por sua vez, tem como cerne a
questão ética, de luta pela libertação e não exploração de animais.
Os vegetarianos rejeitam todo tipo de carne (de vaca, porco, peixe,
frango etc) e seus derivados (presuntos, embutidos etc). Os Veganos, porém, não
consomem nenhum produto de origem animal. Esta vertente também não consome
produtos que são testados em animais, como são a maioria dos remédios e
cosméticos em geral.
Muitos cristãos têm adotado a esses movimentos (o que não vejo problema).
A questão, contudo, é que grande parte deles têm se tornado militantes, e querem
a qualquer custo (ainda que seja contrário as Escrituras) fazer prosélitos e
angariar discípulos para estes movimentos.
Feita a introdução, qual o posicionamento da Bíblia referente ao trato
com os animais? Podemos abatê-los para nos alimentarmos? Por que e para que
Deus criou os animais? Qual a relação entre os homens e os animais?
1. A RELAÇÃO COM OS ANIMAIS ANTES DO DILÚVIO
Muita coisa se perdeu com o dilúvio; os registros
paleontológicos (estudo dos fósseis) trazem evidencias que tanto a flora
(estudo das plantas), como a fauna (estudo dos animais) pré-diluvianas, eram
abundantes.
Com efeito, o homem só passou a comer carne após o dilúvio, e não antes
(Gn 1.29). Os vegetais, entretanto, já não
ofereceriam os nutrientes necessários para a sobrevivência. A vida já
não era a mesma como era antes do dilúvio. Deus, então, permite ao homem que agora
também se alimente, além dos vegetais, dos animais:
“Todos os
animais da terra tremerão de medo diante de vocês: os animais selvagens, as
aves do céu, as criaturas que se movem rente ao chão e os peixes do mar; eles estão entregues em suas mãos. Tudo
o que vive e se move lhes servirá de alimento. Assim como lhes dei os vegetais,
AGORA lhes dou todas as coisas”.
– Gênesis 9.2-3 (NVI)
A Bíblia faz uma distinção entre “animais
domésticos”, “aves do céu” e “animais do campo” (Gn 2.20). Antes que
Deus houvera permitido o consumo de carne, os animais já eram usados para sacrifícios;
seja para a propiciação pelo pecado ou por ofertas de gratidão (Gn 4.4). Antes
do pecado, nenhum animal fora sacrificado e nem abatido para servir de
alimentação.
Com a queda do homem, a primeira pessoa a sacrificar um animal foi o
próprio Deus, quando fez roupas de peles para Adão e Eva cobrirem sua nudez (Gn
3.21). Quem ousaria dizer que Deus errou ao matar um animal qual Ele mesmo houvera
criado?
Quando o Senhor ordena a Noé que entrasse na arca com a sua família, Ele
também o orienta a levar consigo um macho e uma fêmea de todas as espécies de
aves, de todas as espécies de animais e de todas as espécies de seres que se
arrastam pelo chão, para conservá-los vivos (Gn 6. 19,20), pois o objetivo era preservar
as espécies (Gn 7.2-4), e conservar aqueles que seriam usados para o sacrifico
após o dilúvio (Gn 8.20). Por conta deste ato de Nóe, Deus não mais enviaria
outro dilúvio sobre a terra (Gn 8.22,22).
2. A RELAÇÃO COM OS ANIMAIS APÓS O DILÚVIO
Após o dilúvio, houve uma alteração no relacionamento do homem com os
animais (Gn 9.2). Os animais, por ordem do próprio Deus, passaram a fazer parte
da alimentação do homem (Gn 9.3). O que fica subtendido é que, o homem não
poderia usar os animais para satisfazer seus maus desígnios. Não é admitido em
hipótese alguma judiar, maltratar ou matar os animais simplesmente por lazer e
diversão. O uso dos animais deve ser conforme as ordenanças do próprio Deus, da
forma como Ele determinou que fosse.
C. S. Lewis, em seu livro “O problema do
sofrimento”, gasta um capítulo inteiro para falar somente a respeito do sofrimento
dos animais. Como alguém que tinham um grande apreço pelos bichinhos (talvez
por influência dos escritos de Francisco de Assis, qual Lewis muito estimava),
muito lúcido, ele diz:
“O homem foi designado por Deus
para que tivesse domínio sobre os animais, e tudo o que homem faça a um animal
ou é um exercício legitimo ou um abuso sacrílego de uma autoridade concedida
por direito Divino.” 1
Alguns veganos e vegetarianos usam a Bíblia para fundamentar sua posição
de que a Escritura condena o abate de animais para consumo, com base em Gênesis
9.5.
Se estudarmos o texto ainda que superficialmente veremos que significado
da passagem se opõe justamente a ideia de que o homem é quem deve ser punido
caso ele mate um animal.
“Eu acertarei as contas com cada
ser humano e com cada animal que matar alguém.” – Gênesis 9.5 (NTLH)
Veja que a Bíblia condena o derramamento de sangue do HOMEM, e não do
animal. Ou seja, se um homem matar (com dolo) outro homem, Deus lhe pedirá
contas; se um animal matar um homem, neste caso o animal deverá ser punido pelo
seu ato (Ex 21. 28-32).
As pessoas que possuem, por exemplo, cachorros de grande porte (tipo
Pitbull, Hot Valley Etc), se porventura o animal atacar seu dono ou algum
membro de sua família – este cachorro, como acontece na maioria dos casos – é
entregue a outra pessoa ou instituição ou sacrificado (entendo que este último
caso seja um pouco mais cruel).
Portanto, o animal foi criado para servir o homem, e não homem para
servir o animal. Como foi dito aqui, a Escritura não aborda possíveis punições
ao homem caso ele mate um animal, mas traz as punições caso um animal matasse o
homem.
3. O ANIMAL COMO ALIMENTO
Em diversas partes, a Bíblia afirma que os animais são dádivas de Deus
entregue ao homem também para o alimento (pois há também uma relação de afeto e
carinho entre o homem e animais [2 Sm 12.3; Pr 12.10]): A Bíblia não proíbe o
consumo de carne:
“Aquele que come carne, come para o Senhor, pois dá
graças a Deus...” (Rm 14.6).
“Comam de tudo o que se vende no mercado...” (1 Co 10.25). [no mercado também se vende carne].
“Pois tudo o que Deus criou é bom [grifo
nosso: incluindo carne, conforme citado no verso anterior; 1 Tm 4.3], e nada deve ser
rejeitado, se for recebido com ação de graças.” – 1 Tm 4.4
O primeiro Concílio da igreja [e talvez o mais importante] aconteceu em
Jerusalém, e tratou de assuntos essenciais para que cristãos gentios e judeus
pudessem viver em harmônio. A questão central foi o consumo de carne vendidas
em açougues que se utilizavam dos restos dos sacrifícios aos ídolos para a
venda e comércio.
Este era o momento crucial – se fosse pecado abater e comer os animais –
de restringir o consumo. Porém não foi o que aconteceu. Ficou acordado que a
carne deveria ser consumida, entretanto, sem o sangue. Também não podia ser
carne sufocada (quando o animal não é degolado ao ser abatido, mas sufocado).
A preocupação dos apóstolos não era com os animais que seriam usados,
mas com os judeus que se escandalizavam com as práticas dos gentios. Tudo era
feito por amor as pessoas, para que nenhuma barreira fosse erguida a fim de atrapalhar
a chegada do evangelho àqueles que pensavam deste modo (At 15. 19-22).
Portanto, tudo o que foi criado por Deus – seja comida seja bebida –
deve ser consumido para o Louvor da Sua glória (1 Co 10.31).
CONCLUSÃO
Eu amo animais, e louvo a Deus por sua sabedoria e criatividade pela diversidade
com a qual Ele os criara. A inteligência, os instintos, os afetos e etc. Às
vezes, esses bichinhos parecem gente. Risos... Deus fez tudo perfeito,
inclusive os animais. Por diversas vezes, enquanto escrevia este artigo, nossa
cachorrinha, Polly Plummer (nome dado a ela carinhosamente em referência a
menina Polly, das Crônicas de Nárnia,
na história do “O Sobrinho do Mago”),
esteve aos meus pés fazendo-me companhia. Deus é perfeito!
Sobre o amor que as pessoas têm por seus animais, a este respeito me
solidarizo com o sentimento de C. S. Lewis:
“Nunca rirei de alguém que esteja
sofrendo por causa de um animal querido. Acho que Deus quer que amemos mais a
Ele, não que amemos menos as criaturas (até mesmo os animais).” 2
De verdade, respeito às pessoas que aderiram um estilo de vida: “... aquele
que se abstém, para o Senhor se abstém, e dá graças a Deus” (Rm 14.6).
No entanto, o meu protesto é direcionado aquele que pensam estar
moralmente acima dos outros pelo simples fato de não consumirem carne:
“A comida, porém, não nos torna
aceitáveis diante de Deus; não seremos piores se não comermos, nem melhores
se comermos.” – 1 Co 8.8
Como disse o filósofo Luiz Felipe Pondé, isto
são “modas de comportamentos”, criações
de gente que, na maioria das vezes, preservam os animais, entretanto, são a
favor do aborto; não querem ter filhos porque filho dá muito trabalho.
É interessante notar que a natureza é a maior besta fera de todas. Por
que estes ativistas não vão para a selva a fim de adestrar os leões para que
eles comam apenas vegetais? Será que o problema está nos animais que se auto-devoram?
O que muita gente não sabe é que, muitos animais foram extintos não por causa
do homem, mas por causa da própria natureza.
De fato, a mãe natureza é a maior besta fera de todas. Ninguém ensinou os
animais que comer outros bichos é certo; não se trata de ética, mas de instinto;
a questão não é moral, mas sobrevivência. (até porque se os animais não comessem
outros animais muitas das espécies existentes já estariam extintas devido a desnutrição).
Pois bem.
Conta-se que, uma mulher judaica atravessava uma fome muito severa junto
com seus filhos. A única coisa que ela tinha para alimentar ela e seus filhos
era uma galinha que vivia em seu quintal. Os judeus são austeros no critério
para sua alimentação. Antes de comer algo, principalmente carne, eles fazem uma
avaliação rigorosa (conforme listado no livro de levítico) para saber se aquele
alimento é casher, isto é, se é próprio ou não para consumo.
A mulher, não tendo mais alternativa, levou a galinha até o rabino, para
verificar se tratava-se de um alimento casher.
O rabino verificou; olhou; analisou; olhou de novo; sua esposa preocupada com
aquela senhora, perguntou com muita ansiedade ao seu marido se aquela galinha
poderia servir de alimento para aquela família. O rabino havia encontrado uma
mancha no animal, o que, no entanto, tornava a galinha impura para o consumo.
A esposa do rabino corajosamente tomou a galinha das mãos do marido e a
entregou à mulher. O rabino ficou furioso com ela, e perguntou o por que ela
havia feito aquilo. Ela, por sua vez, respondeu:
– Você estava olhando a galinha;
eu, porém, estava olhando a mulher e seus filhos.
Como disse o próprio Jesus, o que tornar alguém impuro não é o que se
come, mas o que se fala e faz. Pois a maldade dos homens – isto é, os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as imoralidades,
os roubos, as fofocas e calúnias – se encontra no coração do ser humano, e não
nos alimentos que ele consome (Mt 15. 17-20).
Em Cristo Jesus, considere este artigo e arrazoe isto em seu coração.
Soli Deo Gloria!
Fabio Campos
“A
folha branca é o meu púlpito principal.”
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_________________
Citações:
1 LEWIS, C. S. O problema do Sofrimento.
Editora Vida, 2009. São Paulo, SP; p. 155
2 LEWIS, C. S. Cartas a uma
senhora americana. Editora Vida, 2006. São Paulo, SP; p. 75