Por Fabio Campos
“Vejam, o salário dos trabalhadores que
ceifaram os seus campos, e que por vocês foi retido com fraude, está clamando
contra vocês. O lamento dos ceifeiros chegou aos ouvidos do Senhor dos
Exércitos.” - Tiago 5:4 (NVI)
A carta
escrita por Tiago – meio irmão de Jesus - é considerada uma obra literária de
sabedoria a estilo do Antigo Testamento, ainda que com evidentes premissas cristãs.
O autor se mostra prático e livre de embaraçosos teológicos, em sua ênfase.
Hoje,
talvez, a carta não seria estimada pela “extrema direita” já que sua
abordagem coloca no centro o pobre, a viúva e o desfavorecido. A esquerda, no
entanto, também não aceitaria o escrito de bom grado, pois Tiago preserva na epístola
os “bons costumes” do judaísmo. Se a
extrema direita é perigosa e egoísta; a esquerda é, ontologicamente, imoral!
Qualquer premissa da esquerda que ouse levantar a bandeira de sua pseudo-virtude
usando o escrito de Tiago, cai logo, ao chegar na segunda parte do verso de Tg
1.28: “...não se deixar corromper pelo
mundo”.
Tiago estava
condenando patrões ímpios de crentes pobres, responsáveis em grande parte pela
miséria e sofrimento pelos quais os pobres passavam por ocasião desta carta.
Percebemos
por aqui (e vários são os textos das Escrituras a esse respeito) que Deus jamais
se ausenta neste tipo de situação. Ele nunca esteve do lado da opressão e do
opressor. A demora de seu juízo, entretanto, não significa a procrastinação do
mesmo. Há um tempo determinado para todas as coisas. Tiago diz que, a prosperidade
destes ricos gananciosos era tão somente o preparo para a execução do juízo.
Os
ricos opressores teve sua vida na terra, como o boi cevado que nem desconfia da
finalidade pela qual o seu dono empanturra de comida todo o dia; os ricos são engordados
com as riquezas e prazeres obtidos e desfrutados de forma ilícita, para que,
quando chegarem ao matadouro do juízo, estejam prontos para o abate de seu
coração perverso (v.3).
Passaram
sua vida toda nutrindo aquilo que os haveria de destruí-los pela eternidade a
fora. Suas riquezas não serão aproveitadas no dia da ira (Pv 11.4; 10.2), pois,
“o que dará o homem em troca da sua alma
(Mt 16.8)?”
Toda a
pompa luxuosa de suas vestes será roída pelas traças. A Escritura traz através
desta ilustração, “roupas roídas”, o castigo de Deus que virá sobre o arrogante
e a opulência dos ímpios (Sl
39.11; Is 50.9; 51.8; Os 5.12).
O
Criador fez todas as coisas para que pudéssemos delas desfrutar e alegrar o
nosso coração (At 14.17). Não é pecado desfrutar dos prazeres da vida. O próprio
Deus por vezes permite que seus filhos façam isso. No caso aqui, pelo qual vem
a denuncia de Tiago é o viver regaladamente à custa do pobre, que além de gemer
pela dura cerviz, também tinha o salário retido com fraude. Estes pobres eram
condenados e mortos, sem que pudessem oferecer resistência (Tg 5.6). Ninguém
era por eles. Deus, contudo, toma partido e lança justiça sobre a injustiça.
O
Senhor toma a causa da ovelha que tem sua lã arrancada para que se façam casacos
de pele aos lobos. O Senhor dos exércitos está do lado oposto da tirania do governo
que joga altos impostos nas costas dos cidadãos (Pr 29.4). Deus é contra aquele
patrão que impõe metas inativeis ao trabalhador, para que ele produza mais,
sem, no entanto, ganhar por isso. Todas as doenças – como síndrome do pânico,
depressões, pressão alta etc, fruto deste trabalho escravo – estão devidamente
registradas no livro de Deus. Nada é despercebido aos olhos do Senhor (Tg 5.4).
Infelizmente
não há muito que fazer. A maldade sobrepuja a retidão (Ec 3.16). O poder está
do lado dos opressores (Ec 4.1). Mas Deus sempre traz alívio e esperança àquele
que não é servo do dinheiro. É interessante notar que, pessoas que dispõe de
poucos recursos, consiga ser patrão do dinheiro; enquanto que, pessoas que possuem
grandes fortunas são escravas de sua riqueza, pois vivem em torno dela.
Quanto
mais nos deixarmos afetar pelas distrações da vida, mais o nosso coração se inquietará
por elas, tendo pouco ou muito. Quando subimos na garupa deste tipo de gente
inescrupulosa, maquiavélica, que não mede esforços para alcançar seus anseios egoístas
e malignos, mais parecidos com elas nos tornamos.
Perceba
que mesmo que estejamos abastados de recursos e desfrutando de boa saúde, no
entanto, ainda sim o nosso coração insiste em permanecer debaixo da servidão das
ansiedades. Andamos inquietos porque colocamos a segurança do nosso futuro
nestas coisas. Se este for o nosso estado, é com razão que tememos (ainda que
tenhamos tudo), pois a qualquer momento nosso “império” poderá criar asas e
voar para um lugar longínquo. Com efeito, só teremos verdadeira paz e segurança
quando o nosso coração repousar em Deus – quer na
bonança, quer na escassez.
Muitos ricos tem tudo, no entanto não conseguem desfrutar
de nada. O medo de perder sufoca o deleite de desfrutar. O sono do justo que põe
a confiança em Deus é ameno e tranquilo. Ele consegue comer, beber e desfrutar
do produto do seu trabalho, pois não se apoia em suas habilidades, mas em Deus,
que nos provê tudo com abundância para que nos alegremos (1 Tm 6.17).
O mundo jaz no maligno!, é verdade; porém,
aquele que está em Cristo, não pertence ao mundo. O mundo passa com a sua
cobiça e ganância, mas o que faz a vontade de Deus permanece para sempre (1 Jo
2.17).
Deixe-os perseguir o vento. Ainda que muitos julguem
inútil o caminho da retidão, Deus fará brilhar a vista de todos a diferença
entre o justo e o mau; entre o que serve a Deus e o que serve ao dinheiro.
As lágrimas e o clamor dos que não podem
oferecer resistência chegou ao Senhor dos Exércitos. Portanto, sejam pacientes
na tribulação e alegrem-se na esperança, pois o nosso socorro vem do Senhor,
que fez os céus e a terra.
Em
Cristo Jesus, considere este artigo e arrazoe isto em seu coração.
Soli Deo
Gloria!
Fabio Campos
“A folha
branca é o meu púlpito principal.”
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Referências bibliográficas:
LOPES, Augustus Nicodemus. Interpretando o Novo Testamento, Tiago;.
Cultura Cristã, 2006. São Paulo, SP