Escola
Bíblica Dominical – 12 de Junho de 2016 |
Lição 11
Texto Áureo: Rm
14.17
Verdade prática:
Os crentes mais maduros não devem agir egoisticamente, mas precisam atuar como
modelo para os mais fracos.
Leitura bíblica em classe:
Romanos 12. 1-6
EXPLICAÇÃO DO TEXTO:
a. O
texto que vamos estudar, aborda:
1. O
problema que havia na igreja de Roma sobre assuntos controvertidos (comida,
bebida e dias de festas). Paulo tratou com dois grupos: os fortes e os fracos
na fé.
2. As
questões abordadas por Paulo eram secundárias; ou seja, as questões não
entravam com conflito com as Escrituras (como era o caso na igreja de Galácia).
Irmãos - tanto fortes como fracos, eram salvos em Cristo. Diferente dos
Gálatas, o que estava em jogo era a essência do evangelho, pois lá os
judaizantes agregavam a observância desses dias especiais no pacote da
salvação, dizendo que, se os gentios não guardassem essas datas do calendário judaico,
não poderiam ser salvos (Gl 4.10,11).
3. Paulo,
que desfrutava de tal liberdade, não agradava a si mesmo para fortalecer os
fracos. Porém, também exortou os fracos a respeitar a liberdade dos fortes (Rm
14.3).
REFLEXÃO E OBJETIVO DA
AULA:
1) Saber que a igreja em Roma era uma igreja heterogênea; 2) Explicar o que a igreja em Roma era
tolerante com os mais fracos; 3) Compreender
que assim como a igreja em Roma, a igreja atual precisa ser acolhedora.
INTRODUÇÃO:
a.
Creio que não havia ninguém mais habilitado que Paulo para tratar sobre essa
“discussão” que estava ocorrendo na igreja de Roma. Paulo, antes de sua
conversão, era legalista; porém, quando convertido a Cristo, desfrutou de tudo
aquilo que Deus havia criado.
“Como
alguém que está no Senhor Jesus, tenho plena convicção de que nenhum alimento é
por si mesmo impuro.” - Romanos 14.14 (NVI)
b.
Paulo desfrutou de forma plena a liberdade de Cristo; ele era tão livre em
Cristo que nem sequer tornou escravo da sua própria liberdade. Fez-se fraco
para com os fracos; forte para com os fortes. O seu desejo não era agradar a si
mesmo mas a Cristo.
“Nós,
que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos, e não agradar a nós
mesmos. Cada um de nós deve agradar ao seu próximo para o bem dele, a fim de edificá-lo”.
- Romanos 15. 1,2 (NVI)
c.
A controvérsia entre os irmãos girava no que podia ou não ser consumido (carne e vinho) e sobre os dias
de festas que os judeus observavam.
d.
É interessante notar que houve mais discussão na igreja primitiva sobre o
“comer carne” do que o “beber vinho” (Rm 14; 1 Co 8; At 15.20).
e.
Hoje a “discussão” se inverteu. Ninguém fala que é pecado comer carne (ainda
que em excesso), mas ai daquele que aprecia uma taça de vinho. Isso só comprova
que essas “coisas essências” são voláteis. Como diziam os reformadores: “assuntos indiferentes”.
f. Sobre
essa liberdade, entretanto, os cristãos devem distinguir entre coisas morais, imorais e amorais.
1. Morais:
Práticas de todos os crentes; por exemplo, o amor fraternal.
2. Imorais:
Práticas que todos os crentes devem repudiar; aquilo que ofende a Deus; por
exemplo, a embriaguez.
3. Amorais:
Este é o maior desafio da igreja, as coisas amorais. Amoral: questões em que a
Bíblia não proíbe, porém, pode trazer danos ao “fraco na fé”. Algumas
controversas da atualidade:
ü Comprimento
do cabelo para homens;
ü Tatuagens
(citar o ocorrido no culto dos adolescentes);
ü Bebidas
alcoólicas;
ü Formas
apropriadas de entretenimento;
ü Tipos
de música no culto;
ü Dízimo
ou oferta proporcional;
ü Se
os dons espirituais mais impressionantes ainda estão em operação atualmente;
ü Administração
da igreja;
ü Modalidade
de batismo;
g. Por
mais piedosos que tentamos ser sobre usos e costumes há assuntos para os dias
de hoje em que a Bíblia não encerra com “proibição”. O intuito de todo cristão
deve se preocupar com a obra de Cristo para que ela não sofra nenhum dano.
I. UMA IGREJA HETEROGÊNEA (Rm
14.1-12)
1. A
natureza da Igreja.
a. A
igreja é heterogêneo, ou seja, de
natureza diferente; não uniforme; sem uniformidade, porém, deve ter unidade.
b.
Por isso, sempre haverão conflitos; dentro da mesma casa poderemos ter uma
“Marta” e uma “Maria”. Ambas amadas pelo Senhor, irmãs, porém, diferentes no
seu modo de pensar e de se comportar.
c. Tanto
judeus como gregos são um em Cristo. O Senhor aceitou ambos os grupos, pois Ele
não faz acepção de pessoas.
d.
Fracos e fortes deveriam se respeitar. Mas quem são os fracos e os fortes que
Paulo menciona?
2. Os fracos na fé.
a. Era
em sua maior parte cristãos judeus que se abstinham de certos tipos de
alimentos e observavam determinados dias em razão de sua contínua lealdade à
lei mosaica.
b.
Esse grupo queria impor o seu ascetismo aos “fortes” que desfrutavam da carne e
do vinho sem problema de consciência.
c.
Comiam legumes para não incorrer no perigo de comer, mesmo que inconsciente,
algo impuro (v.2).
d.
Além de não comer carne, este grupo se escandalizava quando via algum irmão fazendo
o que eles reprovavam. Era o tipo de crente “ranzinza”. Julgava os irmãos que pensava diferente e os acusavam de libertinos
e mundanos.
e.
Houve um problema na igreja de coríntios parecido com este (1 Co 8. 1-13);
porém, ali, a questão era sobre “carne sacrificada aos ídolos”; era costume
após o ritual de sacrifício mandar o resto da carne para ser vendida nos
açougues:
“Comam
de tudo o que se vende no mercado, sem fazer perguntas por causa da
consciência, pois "do Senhor é a terra e tudo o que
nela existe". Se algum descrente o convidar para uma refeição e você quiser
ir, coma de tudo o que lhe for apresentado, sem nada perguntar por causa da
consciência. Mas se alguém lhe disser: "Isto foi oferecido em
sacrifício", não coma, tanto por causa da pessoa que o comentou, como da
consciência, isto é, da consciência do outro e não da sua própria.” - 1
Coríntios 10:25-29 (NVI)
F . A palavra que Paulo se utiliza para descrever
o fraco conota o “fraco, mas pode torna-se forte” (precisa de crescimento).
3. Os
fortes na fé.
a. Eram
crentes judeus e gentios que haviam compreendido com mais clareza a liberdade
cristã, desvencilhando-se dessa forma dos escrúpulos dos rituais judaicos com
respeito à dieta e ao calendário religioso.
b. Paulo,
que pertencia ao grupo dos fortes, dizia que esta posição estava correta (Rm
14.14, 20), porém, afirmou que os fortes não tinham o direito de desprezar os
crentes fracos, mas deviam acolhê-los (contar
a experiência no serviço).
c.
Os fortes deveriam acolher os fracos na fé sem discutir opiniões (14.1). O
verbo acolher carrega a conotação no original grego de “aceitar as pessoas no
sentido de aquiescer em sua existência e mesmo em seu direito de pertencer a um
grupo; quer dizer acolhê-las em nosso círculo de amigos e em nosso coração”.
d.
Enquanto o fraco era ranzinza e julgava o forte, o forte era debochado e desprezava o mais fraco.
e.
O pecado, portanto, não estava em comer ou deixar de comer carne; beber ou
deixar de beber vinho; o pecado estava no fato de ambos os grupos se julgarem
por questões secundárias.
f.
Esqueceram-se que estavam julgando algo que não lhe pertencia, pois o Senhor
aceitou a ambos:
“Aquele
que come de tudo não deve desprezar o que não come, e aquele que não come de
tudo não deve condenar aquele que come, pois Deus o aceitou. Quem é você para
julgar o servo alheio? É para o seu senhor que ele está de pé ou cai. E ficará
de pé, pois o Senhor é capaz de o sustentar.” - Romanos 14:3,4
g.
O termo “servo” que Paulo utiliza não é “doulos”
(escravo), mas “escravo doméstico”.
SÍNTESE DO TÓPICO I
A
igreja é uma, porém é formada por pessoas diferentes.
II. UMA IGREJA TOLERANTE
1. A lei da liberdade.
a. Paulo passa a tratar da liberdade que o Cristão desfruta
pelos méritos de Cristo. Ele mesmo valorizava sua liberdade, pois era alguém
que vivia sob o julgo da lei e de tradições humanas.
b. Por isso, vemos, ele ser “duro” para com aqueles que
desejavam escravizar os que estavam em Cristo: “Foi para liberdade que Cristo nos chamou” (Gl 5.1):
“Como
alguém que está no Senhor Jesus, tenho plena convicção de que nenhum alimento é
por si mesmo impuro.” - Romanos 14:14 (NVI)
c. Há coisas que essencialmente são impuras, mas não é delas
que Paulo está falando. Ele está falando do calendário judaico e da dieta
alimentar dos judeus.
d. Jesus ab-rogou as leis sobre alimentos declarando limpas
todas as espécies.
“Porque não entra em seu coração, mas em seu estômago, sendo
depois eliminado: Ao dizer isto, Jesus declarou “puro” todos os alimentos.” –
Marcos 7.19 (NVI)
e. Pedro, por exemplo, aprendeu a não considerar impura coisa ou
pessoa alguma que Deus tivesse declarado limpo (At 10.15). Paulo escreveu: “Pois tudo o que
Deus criou é bom, e, recebido com ações de graças, nada é recusável, porque,
pela Palavra de Deus e pela oração, é santificado” (1 Tm 4.4,5).
2. A lei do amor
a. Paulo exorta os irmãos a exercitar o “elo perfeito” que é o
amor (Cl 3.14):
“Se o seu irmão se
entristece devido ao que você come, você já não está agindo por amor. Por causa
da sua comida, não destrua seu irmão, por quem Cristo morreu.” – Romanos 14.15
(NVI).
b. Quando um crente forte comia carne e bebia vinho na presença
de um crente fraco, vindo a violar sua consciência, provocando tristeza e escândalo
ao seu irmão, agia sem amor e sem nenhuma consideração por alguém muito
precioso para Jesus, alguém por quem Cristo que dera sua própria vida.
3. A lei da espiritualidade.
a. Começo este tópico emprestando as palavras do próprio
apóstolo quando diz: “Passo agora a mostrar-lhes
um caminho ainda mais excelente” (1 Co
12.31).
b. Que caminho é este? O amor! (1 Co 13).
c. Em sua belíssima obra “Da liberdade Cristã, Lutero escreve o
seguinte:
“Embora o cristão
esteja, sim, livre das obras, em sua liberdade ele deve esvaziar a si mesmo e
assumir a forma de servo, a fim de que, sendo feito à semelhança e forma de
homens, sirva e ajude a seu próximo, tratando-o em tudo do mesmo modo que Deus
o tem tratado por meio de Cristo. E o cristão fará tudo isso sem esperar
recompensa, mas unicamente para agradar a Deus”. 1.
SÍNTESE DO TÓPICO II
O
crente, alcançado pela graça, precisa ser tolerante com os fracos na fé.
III. UMA IGREJA ACOLHEDORA (Rm 15.
1-13)
1. O exemplo
dos cristãos maduros.
a.
Paulo, no capítulo 15, trata com os cristãos maduros. Ele conta com a
maturidade destes irmãos para preservar a unidade no corpo de Cristo (ex. numa
discussão, aquele que exorta, chamará primeiramente o maduro para conversar;
foi justamente isso que Paulo fez):
“Nós,
que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos, e não agradar a nós
mesmos. Cada um de nós deve agradar ao seu próximo para o bem dele, a fim de
edificá-lo”. - Romanos 15:1,2 (NVI)
b.
O conhecimento e a maturidade espiritual dos crentes fortes não deve levá-los à
arrogância e ao desprezo dos fracos, devem eles suportar suas debilidades. O
forte sabe que o Reino de Deus não é comida e nem bebida (Rm 14.17).
c.
Sempre o forte terá mais responsabilidade perante Deus do que o fraco.
d.
Porém, o fraco precisa crescer para conviver bem com o forte.
e.
O forte não deve ser privado da sua liberdade por capricho e melindre do fraco.
Ambos precisam crescer juntos.
f.
A Bíblia exorta o crescimento espiritual; não é certo ficar na mesma disposição
mental:
“De
fato, embora a esta altura já devessem ser mestres, vocês precisam de alguém
que lhes ensine novamente os princípios elementares da palavra de Deus. Estão
precisando de leite, e não de alimento sólido! Quem se alimenta de leite ainda
é criança, e não tem experiência no ensino da justiça. Mas o alimento sólido é
para os adultos, os quais, pelo exercício constante, tornaram-se aptos para
discernir tanto o bem quanto o mal.” - Hebreus 5. 12-14 (NVI)
2. O exemplo de
Cristo.
a. Paulo,
ainda que seja exemplo a ser seguido nesta tratativa, Jesus, entretanto, é o
maior exemplo de todos; o próprio Paulo fala a respeito:
“Pois
também Cristo não agradou a si próprio, mas, como está escrito: “Os insultos
daqueles que te insultam caíram sobre mim”“. - Romanos 15:3 (NVI)
b.
O filho de Deus sendo perfeito, não agradou a si mesmo. Despojou-se de seus
direitos e prerrogativas e veio para servir. Esvaziou-se e tornou-se servo.
c.
Paulo cita o salmo 69.9 para apontar para o Senhor como nosso exemplo: “Pois o zelo da tua casa me
devorou, e as afrontas dos que te afrontam caíram sobre mim”.
e.
O Senhor Jesus estava disposto a ser desprezado a fim de preservar a honra de
Deus. Ele se fez homem abrindo mão da sua glória:
“O
Filho de Deus tornou-se homem para possibilitar que os homens se tornem filhos
de Deus.” – C. S. Lewis
f.
Pelo fato d’Ele ser Nosso maior exemplo, os fortes, tomando o Seu exemplo deve renunciar
a sua liberdade em beneficio dos fracos.
3. O exemplo
das Escrituras.
a. Paulo
recorre, como sempre, as Escrituras; são elas o crivo que analisa como se
encontra a nossa espiritualidade:
“Pois
tudo o que foi escrito no passado, foi escrito para nos ensinar, de forma que,
por meio da perseverança e do bom ânimo procedentes das Escrituras, mantenhamos
a nossa esperança”. - Romanos 15:4
b.
Por que Paulo faz essa citação? Creio que seja para ensinar que as Escrituras
nos foram dadas não para aumentar o nosso conhecimento, mas para fazer-nos
crescer como cristãos e seguidores de Jesus, como está escrito:
“Com
respeito aos alimentos sacrificados aos ídolos, sabemos que todos temos
conhecimento. O conhecimento traz orgulho, mas o amor edifica. Quem pensa
conhecer alguma coisa, ainda não conhece como deveria. Mas quem ama a Deus,
este é conhecido por Deus.” - 1 Coríntios 8:1-3 (NVI)
c.
Tiago também diz: “Quem
é sábio e tem entendimento entre vocês? Que o demonstre por seu bom
procedimento, mediante obras praticadas com a humildade que provém da
sabedoria” (Tg 3.13 NVI).
d. Segundo
a Bíblia de estudo Palavras Chaves (CPAD), a “mansidão” que Tiago diz, trata do
“resultado da decisão de um homem forte
de controlar as suas reações, em submissão a Deus” (p. 2368).
e. Encerro essa
parte citando a famosa frase de Agostinho:
“Nas
coisas essenciais, unidade; nas coisas não essenciais, liberdade; em todas as
coisas, o amor.”
SÍNTESE DO TÓPICO III
A
igreja precisa ser um lugar de acolhimento e não um tribunal.
CONCLUSÃO
1.
Para encerrarmos quero mencionar alguns pontos importantes:
ü Tratamos
de pontos secundários, e não essências;
ü Nas
coisas essências não vamos poder abrir mão (questões éticas e doutrinárias). (Deus
acolhe desde que o homem creia e se arrependa.);
2.
Porém, em Cristo, vamos precisar “suportar em amor uns aos outros”.
3. Philip
Yancey, em um de seus escritos, diz que entre pessoas dos grupos do AA o “chão
é nivelado”. Citando Lewis Meyer, ele diz:
“É
o único lugar que conheço onde status não significa nada. Ninguém engana
ninguém. Cada um está ali porque transformou sua própria vida em uma bagunça
pegajosa e está tentando recolocar as peças no lugar [...] Eu já assisti a
milhares de reuniões na igreja, reuniões em lojas maçônicas, reuniões de
confrarias, mas nunca encontrei o tipo de amor que encontrei nos AA. Por uma
hora, os importantes e poderosos descem e os humildes sobem. O resultado do
nivelamento é o que as pessoas querem dizer quando utilizam a palavra
fraternidade”. 2
4.
Que Deus nos ajude e nos ensine a andar em unidade mesmo sendo diferentes.
“Com
isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos
outros.” – Jesus Cristo, em João 13:35
Soli Deo Gloria!
Fabio Campos
Aula
ministrada na ICT – J - dia 12/06/2016
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Notas
e citações:
1 PATE, C. Marvin. Série
Comentário Expositivo Romanos; p. 277
2 Ibid, p. 283.
Referências
bibliográficas:
Escola Bíblica dominical. Maravilhosa
Graça. 2º trimestre de 2016; CPAD; lição 11.
LOPES, Hernandes Dias. Romanos,
o Evangelho segundo Paulo. São Paulo, SP; Hagnos, 2015.
PATE, C. Marvin. Série
Comentário Expositivo Romanos . São Paulo, SP; Vida Nova, 2015.