Por Fabio Campos
Texto
base: "Para
quem estou trabalhando tanto, e por que razão deixo de me divertir?" – Ec 4.8 (NVI)
Não há nada melhor ao homem, pelo desfrute do seu trabalho, do
que tirar umas boas férias. Estive em férias no mês de março (2015), e pude
mais uma vez comprovar tal coisa, sendo uma necessidade fisiológica. Mas algo
me inquietou! Peguei-me numa “sensação de culpa” simplesmente porque estava
divertindo-me com minha amada esposa. Logo, então, disse a mim mesmo: “algo
está errado”! Orei a Deus e pedi sua orientação para poder discernir de onde
era o “intruso sentimento”.
Pois é, imperceptivelmente, mesmo dizendo que não, somos
influenciados por aquilo que está ao nosso redor. Se o nosso pensamento não
estiver “cativo a Palavra de Deus”, certamente que por todo vento de doutrina
seremos levados. Então fui buscar informações a respeito do assunto nas Escrituras
e em outras fontes que não fossem contrários ao ensino bíblico.
Deus
nos criou com necessidades físicas. Segundo a biologia, todas elas são supridas
por intermédio dos órgãos chamados “órgãos do sentido”. Dentre eles há o “tato” (permite distinguir algo pelo
toque), “olfato” (permite distinguir
as coisas pelo cheiro), “paladar” (permite
sentir o sabor dos alimentos), “visão”
(permite enxergar o que é belo) e a “audição”
(permite ouvir a boa música que acalmará o nosso espírito). Por que, então,
Deus nos criou com tais necessidades? Teria Ele “errado” em nos fazer assim
para logo depois proibir de usufruir daquilo que Ele “tão habilmente” criou?
Indiretamente alguns acham que sim, principalmente os religiosos legalistas.
Mas
não estamos perdidos! Deus foi tão bom conosco que Ele colocou o “Livro do Eclesiastes”
no cânon das Escrituras. Confesso que este, no tempo de “crise existencial” me
ajuda bastante. Sensacional! O livro trata de diversos assuntos. Entre eles
estão a “pobreza e a riqueza” (5.8 –
6.12), o “sofrimento e o pecado” (7.1
– 8.1), a “autoridade e a injustiça”
(8.2 – 9.10), a “sabedoria e a loucura”
(9.11 – 10.20) e a “vida de alegria”
(11. 7-10). Sendo ainda mais especifico, o ele abrange temas como “prazer” (2.1-11), “trabalho” (2.18-23), “desfrute
da vida” (2.18-23), “riquezas que
devem ser desfrutadas” (5. 8-20), “riquezas
que não devem devem ser desfrutadas” (6. 1-9), “moderação” [inclusive no ser justo] (7.15-22) e o “modo pelo qual a vida deve ser desfrutada” (11.9
– 12.8).
O
pregador diz que é “uma
triste maneira de viver” (Ec 8.4 NTLH), o homem que anda sozinho
e que sempre está trabalhando, qual não separa tempo para “aproveitar as coisas boas da vida”. Mais
triste ainda (e opressor) são os “religiosos” que fundamentam seus “rigores acéticos”
com “eisegeses” (ser desonesto com o texto bíblico), levando os mais simples na
fé a prisão dos “rudimentos”. Lógico que isso aparenta piedade! Santidade!
Entretanto, Paulo, diz que viver deste modo como “não manuseie!”, “não prove!” “não
toque!” de fato, aparenta boa coisa, mas que na verdade não passa de “falsa
humildade”, pois toda esta “severidade com o corpo” não atingirá o que tão somente
um coração regenerado alcançará, a saber, “refrear
os impulsos da carne” (Cl 2.20-23).
Estes
tipos de regras impostas por líderes através do medo, nada mais é que, uma “pretensa
e maligna religiosidade”, onde traz respaldos que separaram “a vida religiosa”
do dever “moral e social”. São privações infundadas. O cristão não é “dictomizado”
(separado em partes). Ele é integral! Ainda que seja na diversão, com o coração
puro, assim fará em “louvor e agradecimento a Deus”.
O
Dr. Russell Shedd diz que o “legalismo procura controlar o crente como alguém
que ainda vive no mundo (“como se vivêssemos no mundo”). Trata o regenerado
como um incrédulo carregando-o de exigências que criam temor (“falhei, assisti
durante oito minutos a um programa de televisão”) ou a soberba (“não danço, não
fumo, não bebo e não me associo com ninguém que pratica qualquer destes males”).
É fácil esquecer que há muitos não-convertidos que não se interessam por
nenhuma dessas práticas, mas nem por isso estão mais perto do reino. A raiz do
pecado não está nas práticas externas de proibições humanas, mas no amor
próprio que brota no lugar da devoção a Deus”. O legalismo foca o “dever”, enquanto que a liberdade no
Espírito depende do “querer”. Continuando,
Shedd, diz: “Muitos homens religiosos gastam duas vezes mais esforços para
chegar ao inferno do que seria necessário para alcançar o céu”.
O
sábio pregador do Eclesiastes recomenda que desfrutemos daquilo que Deus criou
(já que tudo foi feito com excelência), pois “não há nada melhor para o homem
do que comer, beber e alegrar-se” (Ec 8.15). Muitos têm comida e bebida, no
entanto poucos conseguem desfrutar disto, pois a recompensa pelo trabalho só
poderá ser concedida por Deus (Ec 3.13).
A
vida é dádiva de Deus! E por falar nisso, do trabalho do homem, sua única recompensa
é comer, beber e alegrar-se junto de sua família em usufruto das obras de suas
mãos (Ec. 3.22). Desfrute da “bênção da intimidade” com a sua esposa. Aproveite
muito!, pois somente ela poderá satisfazer o seu libido (Ec 9.9; Pr. 5.16-19).
O
verdadeiro cristão tem prazer na comunhão com o seu Senhor. Ele é regido pela
Palavra de Deus e moderado em suas ações (Fp 4.5). Deus nos deu a “livre-agência”,
entretanto, esta liberdade será trazida a julgamento (Ec. 11.9; 12.14). O
verdadeiro servo de Deus jamais terá prazer na diversão com “motivações
mundanas” (Ec. 2.1,4; Is 22.13). Não! O que precisamos discernir são atividades
puras, inocentes, das impuras e maliciosas. Creio não ser necessário dizer a
uma pessoa que ir numa boate não agradará a Deus.
Posto isso, não precisa se sentir culpado ao se divertir, como
está escrito: “Portanto, vá, coma com prazer a
sua comida, e beba o seu vinho de coração alegre, pois Deus já se agradou do
que você faz” (Ec
9.7 NVI). Se tal coisa não
escandalizar o seu irmão, e se a sua liberdade não for pedra de tropeço a ele,
desfrute-a para a glória de Deus (1 Co 10.31). Auréola na cabeça não é sinal de
coração puro.
Paulo, pregando aos gentios de Listra, disse que “Deus não
ficou sem testemunho, pois mostrou sua BONDADE, dando-lhe chuva do céu e
colheitas no tempo certo, CONCEDENDO-LHES sustento com fartura e um CORAÇÃO
CHEIO DE ALEGRIA” (At 14.17). Tudo isto Deus fez e faz aos “não-
crentes”, imagina, então, aos seus filhos?
A vida de Paulo não foi fácil. Ele foi um homem piedoso que e
“irrepreensível” concernente às atividades religiosas. Entretanto, Paulo, assim
como nós, era “mortal” e carecia de necessidades. Uma delas era em ter momentos
de refrigério dentro de suas atividades ministeriais. Ele ansiou estar com os
irmãos de Roma para que, com eles, pudesse se alegrar; desejou RECREAR-SE
(divertir, entreter) com eles (Rm 15.32 ARA). A chave linguística do Novo
Testamento Grego, da Editora Vida, diz que este verso (Rm 15.32), no original,
traz o sentido de “descansar junto com”;
“refrescar-se com alguém”; [era como
que Paulo tivesse falando] “eu [quero] descansar e refrigerar o meu espírito junto
com vocês” (p. 282, RIENECKER, Fritz & ROGERS, Cleon; impressão 2007).
Não
caia no engano legalista dos “santarrões”, pois Deus nos criou com
necessidades, e uma delas, sem dúvidas, é a diversão. Podemos, sim, se divertir
de modo santo e digno para a glória de Deus; mas não caia no asceticismo que
tem a sua motivação no desempenho para ostentar o orgulho de “estar aprovado”
segundo os preceitos humanos.
Tudo
tem a hora apropriada. Então, quando chegar a hora de se divertir, divirta-se!,
se conseguir, agradeça a Deus, pois nem todos conseguem usufruir deste benefício,
como está escrito:
“E, quando Deus concede riquezas e bens a alguém, e o
capacita a desfrutá-los, a aceitar a sua sorte e a ser feliz em seu trabalho,
isso é um presente de Deus”. – Ec 5. 19 (NVI).
Certamente,
se divertir, é uns dos presentes de Deus!
Considere
este artigo e arrazoe isto em seu coração,
Soli
Deo Gloria!
Fabio Campos
fabio.solafide@gmail.com
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Referências bibliográficas:
SHEDD, Russell. Lei, Graça e
Santificação. São Paulo, SP; Vida Nova;
2005.
F. HARISSON, Everett. Comentário
Bíblico Moody. Volume I e II.
Batista Regular, 2010. São Paulo, SP
CARSON, D.A. Comentário
Bíblico Vida Nova. Vida Nova, 2012. São Paulo, SP