Por Fabio Campos
Texto
base: “Meus ouvidos já tinham ouvido a teu respeito, mas
agora os meus olhos te viram”. – Jó 42.5
(NVI)
Não tenho dúvidas, principalmente pela postura, seja na igreja
– seja nas redes sociais -, que muitos conhecem muito “sobre” Deus, mas conhecem
pouco a Deus. Deus na vida destes não é uma pessoa, mas sim uma teologia, qual conseguem
manusear, limitar e “explicar” através de cláusulas como se faz nas demais ciências.
Muito diferente de tal postura, pelas Escrituras, vejo o
amado Apóstolo Pedro. Um homem iletrado e inculto, que talvez, pouco conhecia
Deus pela teologia. Todavia aos homens, inclusive para os seus inimigos, era notório
que ele “havia estado com Jesus” (At 4.13). O Reverendo Hernandes Dias Lopes
traz uma nota em seu livro “Paixão e Piedade” muito interessante acerca do
assunto:
“Há muitos pastores pregando sermões bíblicos, doutrinas
ortodoxas, mas seus sermões estão secos e sem vida. E. M. Bounds diz que a
pregação que mata pode ser, e geralmente é, dogmática e inviolavelmente
ortodoxa. A ortodoxia é boa. Ela é a melhor. Mas nada é tão morto como a
ortodoxia morta” [1].
O mesmo Pedro na sua segunda epístola nos exorta a buscar junto
da fé a diligencia e a virtude; na sequencia ele diz para associarmos tudo isso
ao “conhecimento” (2 Pe 1. 5-6). A conotação empregada por Pedro neste ‘conhecimento’ “não é intelectual, mas experimental, qual transforma aquele que
a exerce” (Nota de rodapé Bíblia de estudo Shedd).
Irmão, pelos frutos seremos conhecidos. Há uma grande
diferença naqueles que conhecem a Deus para aqueles que conhecem sobre Deus. A
teologia é importantíssima, pois é a ciência que pensa sobre Deus; quer queira –
quer não – ao abrir a Bíblia todo cristão faz teologia. Contudo, veja que grandes
universidades lecionam o seu curso teológico através de teólogos ateus e liberais.
E digo mais - no âmbito acadêmico e não espiritual – são excelentes
professores. Todavia só informam, mas não alimentam. Falam de Deus, mas não
conhecem a Deus. Fazem teologia, mas não geram espiritualidade. Este é a
diferença de “conhecer sobre Deus” do
“conhecer a Deus”.
É preciso conhecer a Deus para torná-lo conhecido. A
declaração de Jó: “Meus
ouvidos já tinham ouvido a teu respeito, mas agora os meus olhos te viram”; traz muita luz a respeito. Como pode um homem, louvado por
Deus, no fim, confessar que conhecia a Deus somente de ouvir falar? Pois é,
amados; não podemos dar crédito a qualquer um só porque a sua teologia parece
ser boa. Não! Lembre-se que os três amigos de Jó tinham uma teologia ortodoxa.
Leia suas afirmações e se atente naquilo que eles falaram a
Jó. Não há heresias! Podemos tranquilamente basear nossos sermões e estudos
naquilo que eles afirmaram. Olha que interessante! Tudo certinho e, dentro dos
atributos de Deus, nada fora do seu devido contexto. Mas Deus não os conhecia. Depois
da confissão de Jó, na narrativa bíblica, o Senhor toma a Palavra e direciona
aos amigos de Jó, dizendo: “A minha ira se acendeu contra ti, e contra os teus dois
amigos, porque não falastes de mim o que era reto” (Jó 42.7).
Eles falaram certo de algo que não conheciam. Assim, também,
muitos estão aí emitindo um parecer sobre algo que não conhecem. Julgam como
julga o juiz que busca respaldo legalista na constituição. Mas quem pode
conhecer a Deus e entender a sua misericórdia? Por isto que a cruz é uma
loucura para alguns e escândalo para outros. O temor de Deus invade aqueles que
realmente quer agradá-lo. Quantos pregadores e teólogos eloquentes ouvirão naquele
dia: “nunca vos
conheci”. É isso mesmo! Conhecer sobre, é uma
coisa! Conhece a Deus, é totalmente outra!
Quem mais, junto dos fariseus, detinha o conhecimento como os
Escribas? Creio que na época ninguém. Mas a Escritura acerca de Jesus, diz: “porque ele [Jesus] as
ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas” (Mt 7.29). Um povo que honra com as palavras e com a
liturgia certa, entretanto, com o coração distante de Deus (Mc 7.6).
Creio que um dos motivos do sofrimento de Jó foi para ele
entender que, com tudo, ele era amado pelo Senhor; e que, aqueles que pensava
saber algo sobre Deus, de fato, não O conhecia. Uma nota feita por Alister
McGrath na obra que ele escreveu sobre C. S. Lewis, diz que “ler A anatomia de uma dor”, de C. S.
Lewis, “é perceber como a fé racional
pode esfacelar-se quando enfrenta o sofrimento como uma realidade pessoal, mas
do que como uma ligeira perturbação teórica” [2]
Enfim, depois da repreensão do Senhor aos amigos de Jó a
Escritura diz que o “Senhor aceitou a face de Jó” (Jó 42.9).
“O conhecimento” de Deus quando não seguido do “o conhecer a Deus” só traz orgulho. É o meio usado daqueles que têm
a necessidade de ser aceito dos demais. Eles temem a solidão! Não há como negar
e a Escritura confirma isso que, muitos pregam a Cristo por ciúmes e por
inveja; todos estes são briguentos (Fp 1.15-17). Porém, ainda que Cristo esteja
sendo pregado, estes, poderão ter a honra dos homens, mas não terão o louvor de
Deus (2 Co 10.18).
O “conhecimento sobre
Deus”, ratifico, é uma coisa; “conhecer
a Deus”, é outra. Fazer teologia é uma coisa, isso se aprende na sala de
aula; ser moldado à imagem do Filho Jesus, isso é espiritualidade;
espiritualidade se constrói no dia a dia – andando e caminhando com Deus; seja
na tristeza – seja na alegria. Paulo diz que “o conhecimento traz orgulho, mas o amor edifica. Quem pensa
conhecer alguma coisa, ainda não conhece como deveria. Mas quem ama a
Deus, este é conhecido por Deus” (1 Co 8.1-3).
Então só nos restar obedecer:
“Ele mostrou a você, ó homem, o que é bom e o que o Senhor
exige: Pratique a justiça, ame a fidelidade e ande humildemente com o seu Deus”.
– Miquéias 6. 8 (NVI)
Considere este artigo e arrazoe isto em seu coração,
Soli Deo Gloria!
Fabio Campos
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Notas:
[1] LOPES, Hernandes Dias. Paixão e Piedade. São Paulo, SP; Candeia, 2002, p. 25.
[2] MCGRATH, Alister. A vida de C. S. Lewis.
São Paulo, SP; Mundo Cristão, 2013, p. 356.