Por Fabio Campos
Texto
base: [Disse Simão, o mágico] “... Deem-me também este poder...” (At 8.19)
Por estes dias estava arrazoando as motivações dos meus
anseios. Por que tanto? Para que tanto? Por que queria o poder de Deus? Para
que ler tantos livros e adquirir um vasto conhecimento? Percebi que estava
sendo enganado pelo próprio coração (que por sinal é bom nisso), e muitos dos
desejos de “ter” e “ser” não passava de “vaidade das vaidades”. Tudo vaidade!
Eu já cansado e ainda sem saber o porquê continuava, então, a correr desvairadamente
atrás do vento.
Alguns dos nossos anseios são legítimos. Todavia, a “legitimidade”
não anula o “esquadrinhar” de Deus concernente as motivações. Em atos [8.9-24]
a Bíblia relata a história de Simão, o mágico, que morava em Samaria. Ele
praticava feitiçaria e iludia as pessoas através de suas adivinhações. O povo
considerava-o um místico de mais alto nível, ao ponto de rotula-lo “o poder
divino conhecido como Grande poder” (v. 10).
Após o Evangelho ser anunciado pela boca de Felipe, Simão
creu e foi batizado (v. 13). Ele observava atentamente os “sinais e as
maravilhas” que seguia os apóstolos. Extasiado ficava Simão diante de tamanhos
feitos. Muitos dos seus seguidores passaram a crer no Evangelho. O mágico
perdera mercado, e naquele ditado “Se não pode vencê-los, junte-se a eles”,
Simão, então, desejou o poder dado pelo Espírito Santo aos Apóstolos.
Simão, aparentemente, saiu da feitiçaria, entretanto, a feitiçaria
não tinha saído de dentro dele (At 8.13). Ofereceu dinheiro a Pedro para comprar
o poder de Deus. Tudo para se juntar aos discípulos e continuar estimado pelo
povo de Samaria (At 8. 9-10). Deste fato origina-se o termo “simonia”,
conhecido também no mundo secular. Ou seja, “simonia” (de Simão) é o ato de se
obter favores divinos (seja bênção, curas, prosperidades) através de pagamentos
aos sacerdotes e líderes.
Simão desejou o “poder do Espírito Santo” depois de ter crido
no Evangelho. Mas, então, que mal há nisso? A questão é que Deus nunca foi, e
nem será servido por mãos humanas (At 17.25). Não há compra de nada, apenas
graça, favor nunca merecido, pois se fosse merecido, deixaria de ser graça e
passaria a ser salário. Nós podemos estar desejosos pelo o que é certo, mas motivados
pelos “fins errados”.
É certo e bíblico, jejuar!; mas jejuar para obter louvores
dos homens é uma tremenda hipocrisia condenada pelo próprio Senhor (Mt .16-18).
Se for assim, é melhor que não jejue. Estudar a Bíblia e obter conhecimentos teológicos
é lícito e deve ser o desejo natural daquele que quer manusear bem a Palavra da
Verdade; todavia, estudar para afrontar as pessoas e humilhar os oponentes,
ainda que esteja certo nos conceitos, é tornar-se um instrumento do mal –
pensando saber algo, mas não sabendo como convém – de fato, tal pessoa não
conhece a Deus e por Deus não é conhecido (1 Co 8.1-3). Qualquer fagulha de
orgulho ainda tenha conotação religiosa e aparente sabedoria, provém do diabo.
Pensei comigo: “é legítimo e importante ler livros muitos livros”.
Mas por que quero tanto tudo isso? Qual minha motivação ao ajoelhar diante de
Deus e humilhar-se diante de sua mão poderosa? Muitas das nossas confissões
carregam motivações purgatórias ao invés de quebrantamento; não há verdadeiro
arrependimento ainda que o pecado seja real! Se gloriar do arrependimento é
obra morta e trapo de imundície perante aquele que sonda o mais profundo dos
corações.
Cheguei à conclusão que pedimos mal. Por vezes o ministério e
a vocação torna-se um “deus” suprindo uma carência que não foi saciada nas
atividades seculares. Não deixamos nos enganar: muitos neste afã pregam a Cristo
por inveja e rivalidade (Fp. 1. 14-18) - oram e jejuam demando “poder do
Espírito Santo” - estudam para obter conhecimento e habilidade com as Escrituras
– no entanto, por motivos falsos, ou seja, para sua própria glória no desejo de
ser reconhecido pelos homens. Não buscam a glória de Deus! Arrependem-se
somente por medo das consequências e não por terem entristecido o Espírito
Santo.
Se Deus tirasse o ministério dizendo ser “Ele” suficiente, muitos
abandonariam o cristianismo para buscar algo que lhes pudesse trazer prestígio.
Alguns no lugar de Davi, o qual Deus disse que não construiria o templo, mas que
seria feito através do seu filho Salomão; por isso, viraria as costas para Deus
e buscaria servir outros “senhores” para serem recompensados.
Jesus é suficiente para você? Se ele dissesse hoje que você
não teria ministério e nem lhe concederia qualquer habilidade para que você
pudesse fazer algo, mas que, apenas seria dada de Sua “Graça” e que Ele estaria
contigo até a consumação dos séculos, você se submeteria e diria sinceramente: “posso todas as coisas naquele que me
fortalece”?
Antes de orar ou fazer qualquer outra atividade para Deus,
examine-se e peça ao Senhor que esquadrinhe o seu coração mostrando se há algum
caminho mal. Certamente, Deus honrará aqueles que têm a ciência de que não
merece ser honrados e que buscam, acima de tudo, seja no comer ou no beber ou
em qualquer outra coisa, a Glória de Deus (1 Co. 10.31), a qual Ele jamais
dividirá com alguém.
Considere este artigo e arrazoe
isto em seu coração,
Soli Deo Gloria!
Fabio Campos
fabio.solafide@gmail.com