Por Fabio Campos
Ao término da leitura “Pregação e Pregadores” ajoelhei e supliquei
a misericórdia de Deus sobre minha vida. O quão distante a igreja está do nível
de pregação e estilo de Lloyd-Jones. Posso englobar “pentecostais e
tradicionais”. Lloyd-Jones era de linha calvinista e por isso muita das vezes
parei a leitura para pensar: “Já não se faz calvinistas como antigamente”. Quanto
equilíbrio! Fervor junto da eloquência – Piedade com intelectualidade.
Como iniciante na arte da exposição das Escrituras, tenho
ainda muita dificuldade em preparar um sermão. Uma dificuldade ainda maior é de
anuncia-lo de forma clara e organizada. Como esta obra me ajudou e colocou
minha organização, desde o esboço, até a exposição, no prumo. Deus foi bom
comigo por me apresentar esta obra. Por isso recomendo a todos e “gasto” meu
tempo em escrever a respeito, encorajando aqueles que foram chamados para expor
todo o “conselho de Deus” aos homens.
Creio que tal obra é leitura obrigatória a todo pregador que ama a Palavra de
Deus e deseja prega-la de forma fidedigna.
Preciso ser sincero quanto ao “prefácio da edição em
português”. Com todo respeito ao Pr. Josafá Vasconcelos -, arrazoando seu escrito,
julgo que ficou aquém do conteúdo do livro. Principalmente por chamar Charles
G. Finney de pelagiano. Creio que o exagero maculou o prefácio e por isso não
posso dizer que tal tem muito haver com as dicas preciosíssimas de M.
Lloyd-Jones.
A obra é divida em 16 capítulos. Vou tratar objetivamente
a respeito de cada um para que o leitor seja aguçado a mergulhar no estudo
completo desta riquíssima obra.
CAPÍTULO
1
– A PRIMAZIA DA PREGAÇÃO
O capítulo aborda a pregação sendo o “maior e a mais gloriosa vocação para alguém ser chamado”. Transcende
o discurso metódico através de meios ou técnicas. A pregação não pode ser
mecânica - nem tão pouco se trata de oratória. Pessoas previsíveis não passa
confiança pela sinceridade que transmitem a Verdade de Deus. O capítulo aborda
também os temas: “Grandes pregações sempre dependem de grandes temas. Grandes
temas sempre produzem grandes discursos em qualquer campo; e, de fato, isto é
particularmente veraz, como é óbvio, no campo da igreja”.
O Dr. afirma que a pregação não se trata de uma palestra
ou ensaio. Por mais que pareça agradável a mente dos intelectuais este tipo de
abordagem nas ministrações, não é para Deus, pois a pregação foi constituída
para alimentar as almas e não a mente. Por conta deste método, Lloyd-Jones diz
que “à medida que a pregação declina, o
aconselhamento pessoal aumenta”.
O Dr. Também aborda o “evangelho social”. Trata da
importância da igreja no contexto social, todavia, é necessário tomar cuidado
para não transformarmos a igreja em uma ONG e a mensagem em Alto-ajuda.
Lloyd-Jones diz: “A igreja não é uma
organização ou instituição social, não é uma sociedade politica, não é uma
sociedade cultural, é ‘coluna e baluarte da verdade’”.
CAPÍTULO
2
– NÃO HÁ SUBSTITUTOS
Não há atividade mais
importante no culto do que a ministração da Palavra. Não há substitutos. O
púlpito precisa estar no centro do culto e da igreja. Lloyd-Jones ratifica a importância
dos que foram designados por embaixadores do Reino. Sua mensagem principal é a reconciliação
de Deus com os homens. O homem é rebelde por natureza, desviado desde o ventre.
O papel do embaixador é tornar-lhe isso conhecido.
Ainda que haja ajuda da psicologia e das ciências para
que de algum modo posso suavizar a dor e o problemas da vida, ainda sim, o
Evangelho é o único remédio eficaz, pois o levará para a eternidade. Lloyd-Jones
argumenta que a pregação tem uma posição primordial, pois a verdadeira pregação
aborda os problemas pessoais. Por isso ela não deve ser suprimida pelos
aconselhamentos.
CAPÍTULO
3
– O SERMÃO E A PREGAÇÃO
Pregar não é debater. Ele argumenta que não podemos
pregar por porfia nem tão pouco para ostentar intelectualidade. A grande
maioria dos debates promove o debatedor e nunca a Cristo. Muitas das vezes
Lloyd-Jones se recusou a participar de debates e acerca disso: “Debater
sobre o ser de Deus de maneira casual, assentados confortavelmente em uma
poltrona, fumando um cachimbo, um cigarro ou um charuto - isto é para mim algo
que jamais deveríamos permitir, porque Deus, conforme venho dizendo, não é uma
espécie de conceito ou X filosófico”. Ele
ainda diz: “Nunca devemos nos aproximar
desse tema de maneira leviana ou com mero espírito de debate; além disso, esse
tema jamais deve ser considerado assunto [pregação] para entretenimento”.
A pregação não se trata de um ensaio
moral ou alguma espécie sobre princípios éticos. É algo que transcende o entendimento
humano. É a mensagem dada por Deus:
“Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi”. Lloyd-Jones diz que é “isso que determina a mensagem ou o sermão
como tal”. D. Martyn ratifica o papel de um embaixador dizendo ser “alguém enviado para falar em lugar de
outrem. Ele é o porta-voz de seu governo, de seu presidente, de seu rei ou
imperador ou de qualquer outra forma de governo que, porventura, exista em seu
país”.
CAPÍTULO
4
– A FORMA DO SERMÃO
O Dr. Começa propondo neste capítulo que precisamos entender
a relação existente entre teologia e pregação. A pregação deve sempre ser
teológica. É impossível preparar um esboço sem pensar em Deus. Até mesmo a
pregação evangelística precisa ser teológica. Tudo precisa estar alinhada com a
Sã doutrina para não darmos comida estragada a pessoas. Pensar em Deus, de modo
simples, também é fazer teologia.
Outro ponto também que ele aborda é que muitos falam
belas coisas do Evangelho; demonstram o quão maravilhoso ele é. Todavia,
precisamos pregar o evangelho e não pregar a respeito do evangelho. Lloyd-Jones
diz que “o evangelho é maravilhoso, é
digno de elogios, mas esta não é a tarefa primordial do pregador. Ele deve
apresentar, declarar o evangelho”. E de fato muitos pregadores têm caído
nesta armadilha, principalmente aqueles que tende a “poetizar a mensagem bíblica”.
Um sermão não é um ensaio e nem tão pouco uma palestra. Também
não é um comentário expondo o significado de um versículo. Lloyd-Jones diz que “o que faz um sermão ser um sermão é que tem
forma especifica que o diferencia de tudo mais”. Ao expor as Escrituras
precisamos mostrar que não estamos tratando de um assunto acadêmico ou teórico,
mas de algo vital para os ouvintes e que eles ouçam com todo seu ser, e isso ajudará
a vivê-los.
Mesmo sendo iniciante, nestes poucos anos de experiência,
posso afirmar com certeza que, até hoje, não
pude experimentar tarefa mais difícil e trabalhosa do que pregar a palavra de
Deus. Ser simples sem ser simplista é o maior desafio de todo pregador diante
dessa solene incumbência.
CAPÍTULO
5
– O ATO DA PREGAÇÃO
Neste capítulo do Dr. aborda aquilo que pra mim é a parte
mais importante na integridade da mensagem e a qual tenho maior dificuldade: “A
entrega do sermão”, ou seja, o “ato de pregar”. Sermão é aquilo que escrevemos;
pregação é aquilo que falamos. Os dois precisam estar muito bem alinhados.
O pregador deve constantemente lembrar que ali ele se
encontra para “declarar” a mensagem de Deus e que pelos céus foi revestido de autoridade.
O pregador precisa preparar o seu sermão com toda diligencia, contudo, não deve
ficar preso a ele. Precisa estar livre no sentido da inspiração do momento.
Lloyd-Jones traz um fato muito importante e ao mesmo tempo interessante: “Uma das coisas mais notáveis sobre a
pregação é esta: descobrimos frequentemente que as melhores coisas ditas pelo
pregador são aquelas que não foram premeditadas; aquelas sobre as quais ele não
havia pensado durante a preparação do sermão, mas que lhe são dadas enquanto
está no processo de falar e pregar”.
Ele aborda também a importância da pregação “fervorosa”: “O pregador jamais deve ser monótono, nunca
deve ser enfadonho; ele nunca deve ser o que se chama de ‘cansativo”. Lloyd-Jones
ainda diz “como pode ser monótono um
homem que trata desses assuntos? Quero dizer que um ‘pregador monótono’ é uma
contradição; se ele é monótono, não é um pregador. Pode subir a um púlpito e
falar, mas certamente não é um pregador. Ante o grandioso tema e mensagem da
Bíblia, a monotonia se torna impossível”.
Ele aborda também o amor que o pregador precisa ter para
com os seus ouvintes. Trata do elemento da “empatia e emoção”, dizendo ser
extremamente vital para com expositor das Escritas. Uma frase dita pelo Dr. me
chamou a atenção; parece que ele estava falando a muitos pregadores atuais dos
dias de hoje. Ele diz que empatia e emoção são escassas em grande parte dos
irmãos reformados. Ele continua argumentando: “Somos tão eruditos, dominados profundamente a verdade, que tendemos
por desprezar os sentimentos. As pessoas comuns, pensamos, são emocionais e
sentimentais, mas não têm qualquer compressão”.
CAPÍTULO
6
– O PREGADOR
O Dr. Martyn Lloyd-Jones aborda este capítulo com muita
propriedade, por ter ele abandonado sua carreira de médico para se dedicar em
tempo integral a pregação do evangelho. Ser pregador não algo dado pelos
homens. É vocação dada por Deus. O ato de pregar em uma congregação não está
aberta a todo homem. Ele informa que a chamada para o ministério da pregação
veem pela conscientização no espírito onde todo o assunto é dirigido para o
tema da pregação.
Diz que este chamado [o de pregar] “é algo do que nos tornamos conscientes, e não algo que realizamos; é
colocada sobre nós, apresentada a nós e quase que constantemente reforçada por
nós”. “A característica deste
chamado é que inclui o interesse pelo próximo, a preocupação pelos outros, a
percepção de que se encontram em estado e condição de perdidos, bem como o
desejo de fazer algo por eles: anunciar-lhes a mensagem e apontar-lhes o
caminho da salvação”.
O Sr. Spurgeon costumava dizer aos jovens: “Se vocês podem fazer outra coisa, faça-o.
Se podem ficar fora do ministério, fiquem fora do ministério”. Ele disse
isso porque aquele que foi realmente chamado não consegue deixar de pregar a
Cristo crucificado. “O elemento principal
de todo pregador é o amor a Deus, o amor às almas, o conhecimento da verdade e
a habitação do Espírito Santo em nós. Estas são as coisas que constituem um
pregador”, diz Lloyd-Jones.
CAPÍTULO
7
– A CONGREGAÇÃO
Este capítulo aborda a importância do pregador em conhecer
os seus ouvintes. Tornou-se um grande desafio ao pregador para expor a Bíblia
nos dias de hoje, já que o homem moderno não está muito disposto a ouvir longos
sermões. Como disse certo escritor: “O
mundo está mais carente de bons ouvintes do que de bons pregadores”.
O cuidado em pregar o evangelho ao invés de querer
impressionar os intelectuais é abordado neste capítulo. O Dr. traz várias fatos
e experiências ocorridas ao longo de sua vida ministerial. Ele usa as palavras
de Martinho Lutero para trazer luz a este contexto: “Um pregador deve ter a habilidade de ensinar de maneira mais simples,
completa e clara àqueles que não têm boa instrução; porque ensinar é mais importante
do que exortar”. E ainda nas palavras de Lutero, diz: “Quando prego, não levo em conta nem
doutores nem magistrados, dos quais tenho mais de quarenta na minha
congregação. Toda a minha atenção está focalizada nas empregadas e nas
crianças. E, se os eruditos não estão satisfeitos com o que ouvem, bem, a porta
está aberta”.
D. Martyn Lloyd-jones diz que “não existe maior erro do que pensar que
precisamos de um evangelho diferente para pessoas especiais”. Este é o
senso que o pregador precisa ter, que “não
pode haver intelectual ou não-intelectual, ou operário, ou profissional liberal,
ou qualquer outro tipo de pessoa. Somos todos iguais no pecado, no fracasso, no
desespero, na necessidade que todos temos do Senhor Jesus Cristo e de sua
grande salvação”.
Ele aborda também da necessidade de
cuidarmos do “fraco na fé”, não pisoteando sua consciência, mas antes o
ajudando sem discutir assuntos controversos.
CAPÍTULO
8
– O CARÁTER DA MENSAGEM
Este é o assunto onde Lloyd-Jones trata do relacionamento
entre o pregador e os seus ouvintes. A importância da transmissão da mensagem
onde possa ser compreensível sem muita dificuldade. Um grande conselho é dado
aos jovens pelo Dr.: “A falha principal
de todo pregador jovem consiste em pregar conforme gostaria que os ouvintes
fossem e não conforme eles realmente são”. Gostam de expor as biografias de
santos do passado e utilizar dos ensinos dos pais da igreja e dos reformadores.
O que também é muito importante. Todavia, o povo é muito mais simples do que pensamos.
É preciso pregar ao coração antes de preocupar-se em pregar para a mente.
A mensagem deve ser preparada e anunciada por aquele que
a sentiu primeiro. Não importa qual caráter seja. Até um sermão evangelístico,
se um crente, ainda que esteja por muitos anos no evangelho, caso ouça um
sermão evangelístico e não se sente emocionado ou comovido, Lloyd-Jones diz que
desconfia seriamente para saber se tal realmente é um crente. A mensagem
precisa queimar em nosso coração para depois queima-la o coração das pessoas.
Lloyd-Jones ainda trata do zelo intelectual exagerado: “O evangelho não visa meramente ao
intelecto; e, se a nossa pregação sempre for expositiva, [somente] para a
edificação e o ensino, isso produzirá membros de igreja apáticos, frios e, com
frequência, insensíveis e auto-satisfeitos. Desconheço outra coisa que mais
provavelmente produzirá uma congregação de fariseus”.
O Dr. também trata neste capítulo a respeito da acústica.
Ele diz que mais essencial em um templo bonito é ter boas propriedades
acústicas.
CAPÍTULO
9
– O PREPARO DO PREGADOR
Este é momento de estudo do “pregador”, ou seja, a
“pregação”. O pregador não tem feriado nem descanso. Sua mente não tira férias.
Constantemente pensamentos e dizeres das Escrituras alimentam sua mente
montando por si seu próximo sermão. O pregador precisa manusear bem a Palavra
da Verdade, pois o Espírito Santo lhe trará a lembrança daquilo que ele já
estudou e meditou. Ele ainda diz “que há
muitos perigos na vida de um ministro. Diferentemente de homens ocupados em profissões
e negócios, o ministro não está necessariamente limitado a horários e outras
obrigações sociais, nem a condições de seu controle”. Por isso que o pregador
em tempo integral precisa redobrar o cuidado para com sua disciplina.
Ele traz alguns conselhos e sugestões para o pregador. Em
como se preparar; do que lê; como lê e os horários de leituras específicas. “Em tudo isso, literamente falando, o
pregador tem de lutar pela própria vida, neste sentido”, diz Jones. O
pregador precisa conhecer a si mesmo e a sua estrutura física. Cada um tem sua
rotina e seus horários em que se é mais produtivo.
É preciso tempo de meditação, oração e estudos [sistematizados].
Llody-Jones aconselha os pregadores que façam leituras e estudos mais complexos
pela manhã, deixando o devocional e a leitura mais simples para o período da noite
para relaxar e ter uma boa noite de sono.
Ele diz que o pregador jamais deve ler a Bíblia somente
para achar textos o qual possa apoiar sua exposição. Antes, precisa ler a
Palavra de Deus para si, para o alimento de sua alma. Uma dica valiosíssima,
Lloyd-Jones nos transmite por este livro: “Quando
você estiver lendo as Escrituras dessa maneira [como seu alimento] – sem
importar se lê pouco ou muito – se algum versículo destacar-se, pretendendo a
sua atenção e arrebatando-o, não continue lendo. Pare imediatamente e lhe dê ouvidos. Ele
estará falando com você; portanto, escute-o e fale com ele. Interrompa a
leitura imediatamente e concentre-se sobre a declaração que tanto o
impressionou. Continue fazendo isso até que surja o ‘esqueleto’ de um sermão.
Este versículo ou declaração falou com você, sugeriu-lhe uma mensagem”.
Por fim ele nos adverte da importância em cuidar de nossa
estrutura física e principalmente de nossa mente. Ele diz que “é conveniente que a mente não seja por
demais estimulada e exercitada, antes de nos recolhermos ao leito, se quisermos
evitar a insônia”. Adverte que o “homem
que se mostra muito tenso e sobrecarrega sua mente, não demorará a cair em
dificuldades. Precisamos dar alívio e repouso à mente. Entretanto, aliviar a
mente não significa que você deixará de ler, e sim que lerá algo diferente”.
Uma mudança de leitura é uma ótima folga para a mente.
Ele cita como Karl Barth relaxava sua mente para pregar
ou escrever: pelas manhãs ele ouvia Mozart. Alguém por isso repreendeu
Lloyd-Jones, creio que por não conhecer o valor da música e de como ela nos
relaxa. Sua resposta foi: “Barth não
buscava em Mozart pensamentos ou ideias, mas Mozart fazia algo por ele em
sentido geral. Mozart o colocava em bom estado de espírito, fazendo-o sentir-se
feliz em sua alma. Mozart o liberava, deixando-o à vontade para pensar os seus
próprios pensamentos”.
CAPÍTULO
10
– A PREPARAÇÃO DO SERMÃO
Este capítulo aborda a diferenciação entre “pregação” e
“palestras”, “ensaios” e “ensinos”. Llody-Jones endossa que o pregador deve ser
espontâneo e fale o que o Espírito lhe disser. Ele apreciava em muito os
catecismos, contudo, não acreditava na pregação deles. Dizia que “os catecismos foram produzidos por homens,
cujo intuito era enfatizar certas coisas, em sua situação histórica peculiar,
em contraposição a outros ensinos ou atitudes específicos”.
Também não gostava de pregação em séries, capitulo por
capitulo. Dizia ele ser isso um “atrevimento”. Ele cita C. H. Spurgeon que “o pregador não devia pessoalmente tomar essa
decisão [de antecipar o que iria pregar], e sim que devia orar, pedindo
orientação e direção da parte do Espírito Santo, para em seguida submeter a Ele”.
O Dr. não condenava alguém assim que o fizesse, mas não era sua prática. Ele
preservava a “Liberdade do Espírito”,
expressão esta citada pelo “Príncipe dos Pregadores”, C. H. Spurgeon.
Precisamos aproveitar todas as oportunidades para
proclamar a Cristo, e isto em tempo e fora de tempo. A respeito da pregação
engessada na liturgia ou que foi predeterminada antes do dia de transmiti-la,
Lloyd-Jones diz: “se você não pode ser
desviado de uma rotina mecânica por meio de um terremoto, não há esperança para
você”.
Sua advertência foi também em ser fiel ao texto e ao seu
sentido. Terminando o capítulo posso concluir com aquilo que o Lloyd-Jones diz:
“A tarefa do pregador consiste em
persuadir e ensinar as pessoas a ‘aceitarem a verdade’, afastando-as do que é
falso, mas não jogando sobre elas a verdade. Assim, ele deve estar ajustando continuamente,
à medida que toma consciência da mudança das condições”.
CAPÍTULO
11
– A ESTRUTURA DO SERMÃO
Lloyd-Jones inicia o capítulo: “Havendo descoberto a mensagem e o significado principal do texto, você
deve prosseguir e afirmar isto em seu contexto e aplicação atual”. Ele
trata de que não há um único método para estruturar o sermão. Mais importante
em estruturar um sermão é de transmiti-lo. Por isso que a estrutura é importante,
não para embeleza-lo na forma literária, mas em facilitar o trabalho do
pregador em aplica-lo ao coração da congregação.
Um sermão consiste de vários pensamentos dados no decorrer
dos dias. Por isso é importante anotar tudo o que o ajudará a iluminar a verdade
na cabeça dos ouvintes. Cada um tem seu estilo. Um gosta de escrever o sermão
na íntegra. Outros preferem um esboço, elaborando os principais tópicos a ser
tratado. Spurgeon era um dos que não escrevia sermões; ele somente preparava e
usava um esboço.
Jonathan Edwards por muito tempo escreveu seus sermões.
Depois de algum tempo, passou a rabiscar algumas poucas notas. Lloyd-Jones define “o sermão não sendo uma simples coletânea
de afirmações; ele tem qualidade, forma, totalidade”. A boca fala do que
está cheio o coração. O pregador deve se preparar, todavia, precisa ter equilibro
na qualidade literária. Lloyd-Jones diz que “a
preocupação com a forma literária, se não for algo criteriosamente
disciplinado, pode conduzir facilmente a um estilo primoroso e artificial, que
pode arruinar a verdadeira pregação”.
CAPÍTULO
12
– ILUSTRAÇÕES, ELOQUÊNCIA, HUMOR.
A ilustração dentro do sermão tem o objetivo de fixar conceitos
que o pregador quer transmitir a congregação. Podemos usar ilustrações baseados
em textos da própria Bíblia. A Escritura é composta de poesia, histórias e narrativas,
epístola e provérbios de sabedoria, nos dando assim a oportunidade de tiramos o
que temos do bom tesouro. Todavia, precisamos tomar cuidado com o excesso e de
como vamos utilizá-las.
Outro fator importante abordado pelo Dr. é a eloquência.
Ele diz que nenhum homem deve tentar ser eloquente. “Não somos estaditas ou outros profissionais que precisam de tal
técnica”. Se Deus lhe conceder tal dom, assim será e grandemente será usado
por Deus. Todavia, esse não pode ser um desejo do pregador. Isso precisa vir naturalmente!
Assim aconteceu com Paulo-, ele “não usava de palavras de sabedoria humana”.
Mas ao expor a doutrina, de forma natural, se tornava eloquente.
O humor também ocupa um papel fundamental na pregação,
principalmente para aproximar os “antipáticos” ao pregador até então odiado. Certamente
com muito equilibro ele [humor] terá o seu papel fundamental no momento de
transmitir a mensagem e torna-la “aceitável”.
CAPÍTULO
13
– O QUE EVITAR
Um dos pontos que me chamou a atenção neste capítulo foi
de “evitar” anunciar de antemão o tema que será ministrado no culto [não em
palestras ou estudos]. Particularmente tinha esse hábito, mas o Dr. me
convenceu que é errado [quando constante]. Ele diz que essa situação estimula
um pseudo-intelectualismo e uma tentação no ouvinte de ser seletivo em qual
culto ele deve ir ou não para satisfazer e ouvir conforme a sua necessidade.
Ele também adverte acerca do formalismo. Em uma exortação,
Lloyd-Jones diz “quão diferente seria o
estado das nossas igrejas se todos nos mostrássemos tão preocupados em ser
ortodoxos em nossas crenças como o somos em nossa conformidade com as ‘coisas a
fazer’ e com as ‘coisas feitas’ nas igrejas”.
É necessário também se prevenir do profissionalismo. O
profissional olha para si; o outro é apenas uma oportunidade de negócio. O
pregador precisa evitar o anseio de ser reconhecido. Por isso precisamos vigiar
nossos pontos fortes, naquilo que “somos bons”, para não cairmos na armadilha
mortal da soberba. Loyd-Jones nos receita um grande remédio para isso: “A melhor maneira de refrear qualquer
tendência ao orgulho – na pregação ou em qualquer outra coisa que possamos ser
ou fazer – consiste em ler, no domingo à noite, a biografia de algum grande
santo de Deus”.
Precisamos evitar o excesso de compreensão das pessoas
que nos escuta. “Somente uma em cada doze
pessoas de sua congregação é realmente inteligente”, diz Lloyd-Jones. Por
isso devemos evitar também assuntos polêmicos. Este tipo de abordagem tem os
seus lugares específicos, talvez na academia, contudo, na pregação, devemos alimentar
o rebanho. Jesus morreu também pelo simples e pelo de pouca instrução. Certamente
seremos cobrados por não ter dado água nem alimento aos pequeninos que ele
amavelmente os salvou através da sua morte.
CAPÍTULO
14
– APELANDO POR DECISÕES
O Dr. aborda os cuidados que devemos ter na liturgia do
culto. Em especifico ele trata do ministério de louvor. Como os ministros de
louvor são tentados a caírem no laço de satanás, a saber, o orgulho. Não
precisa muito para identificar esta verdade; olhe para o ministério de louvor e
logo veras as contendas que há pelos primeiros assentos. “A música deve ser conservada no seu devido lugar. Ela é uma criada,
uma serva; não lhe devemos permitir que domine ou controle as coisas, em nenhum
sentido”, diz Lloyd-Jones.
O Dr. também aborda o “apelo” feito pelo pregador ao
final da mensagem, convidando o pecador para “aceitar a Cristo”. Ele não é
favorável, e acerca disso diz: “Noutras
palavras, a obediência não resulta de uma pressão direta sobre a vontade; é consequência
de uma mente iluminada e de um coração quebrantado. Para mim, este é um ponto
crucial”. De fato este é um assunto controverso entre “pentecostais” e “tradicionais”.
CAPÍTULO
15
– OS ARDIS E O ROMANCE
Neste capitulo o Dr. diz acerca dos perigos de se repetir
sermões. Não é proibido, mas é perigoso. Diversos “santos” fizeram isso no decorrer
da história e foram bem sucedidos ao transmitir a verdade através dos sermões
de outros pregadores já consolidados. Precisamos identificar quem ouvirá para
nos asseguramos que não estamos repetindo o que já dissemos as mesmas pessoas.
Outro ponto abordado neste capitulo é a “preocupação
excessiva” do pregador a despeito da sua reputação. Precisamos lembrar
constantemente que o “vaso é de barro”, e que por isso, se pudermos usufruir
usando sermões de outras pessoas, na direção do Espírito Santo, este será muito
bem-vindo e edificará os santos naquilo que pelo foi designado pela Soberania
de Deus.
Não existe nada mais belo e romântico ao pregador, de
subir no púlpito para entregar a mensagem de Deus. O pregador pode estar com o
problema que for, e ter passado por situações adversas naquele dia-, se ele
subir ao púlpito em temor e tremor, Deus renovará suas energias e de lá este
sairá revigorado para enfrentar suas batalhas de uma forma mais eficaz.
CAPÍTULO
16
– DEMONSTRAÇÃO DO ESPÍRITO E DE PODER
Quando pensei que já tinha me deleitado o bastante neste
banquete, eis que surge o último capítulo, o qual trouxe a mim ainda mais admiração
pelos ensinos de D. Martyn Lloyd-Jones. Ele trata este capítulo sendo a parte
mais importante do livro e a mais eficaz que o pregador deve possuir: “... em última análise, é o assunto mais
fundamental relacionado à pregação, ou seja, a unção do Espírito Santo”. Continua
ele: “A razão por que fiz isso
[deixar a parte mais importante para o fim] é
que acredito que, se fizermos ou tentarmos fazer primeiro tudo aquilo a que me
referi, essa unção será derramada sobre nós. [...] A maneira correta de encarar a unção do Espírito é pensar nela como
aquilo que vem sobre a preparação”. Ele ilustra esta verdade através de
Elias o qual preparou o altar, cortou a lenha e a arrumou para que, o Senhor
então, mandasse fogo e consumisse seu sacrifício endossando-o seu ministério. O
mesmo se deu com Moisés, quando no fim da construção do tabernáculo tinha feito
como o Senhor ordenara. A glória de Deus encheu aquele lugar.
Só estaremos aptos para a obra da pregação se de fato
tivermos sido revestidos de poder que vem do alto. Não há outro método, ainda
que haja muita eloquência e erudição e uma séria de informações a respeito da
teologia. Todas as vezes que o Senhor mandava sua Palavra para seu povo o
Espírito estava sobre este arauto. Assim aconteceu quando foi dada a revelação
do Apocalipse para João: “Achei-me no Espírito, no dia do Senhor, e ouvi, por detrás de
mim, grande voz”.
Um fato dito por Lloyd-Jones muito me chamou a atenção.
Acerca dos dons e de sua atualidade, talvez na posição “continualista”, assim
diz Lloyd-Jones:
“Esta é a evidencia e o testemunho claro e inequívoco das
Escrituras no tocante à pregação. Mas é possível que a sua posição seja: “Sim,
aceito essa verdade e não tenho qualquer dificuldade a esse respeito”. Mas tudo
isso terminou juntamente na era apostólica e, portanto, nada tem a ver comigo”.
Minha resposta é que as Escrituras tencionavam ser aplicadas a nós hoje,
porque, se confinarmos todas bênçãos à era apostólica, deixaremos muito pouco
para nossa época. De qualquer modo, como podemos decidir o que tencionava ser
aplicado somente aquela geração e que se aplica a nós? Que critério usamos para
determinar isso? Quais seriam os critérios desse discernimento? Minha opinião é
que tudo isso não passa de preconceitos. As Escrituras foram escritas para nós,
e sua inteireza. No novo testamento encontramos um quadro sobre a igreja; e esse
quadro é relevante para igreja e todos os séculos e em todas as épocas”.
Endosso esta obra a todo pregador do
Evangelho independentemente do seu tempo de caminhada e de seu “nível” de
intelectualidade ou de conhecimento. Vale a pena ler o livro e, não somente
isso - tê-lo de cabeceira consultando sempre para lembrar constantemente destas
dicas preciosíssimas que nos ajudará na preparação do sermão e na
exposição do mesmo. Segue o último parágrafo do livro:
Então, o que devemos fazer a respeito disto [ser eficaz na
pregação]? Só existe uma conclusão óbvia. Busque-O [Espírito Santo]! Busque-O
[Espírito Santo]! Que poderíamos fazer sem Ele? Busque-O [Espírito Santo]!
Busque-O [Espírito Santo] sempre! Mas além de busca-Lo, espere-O. Você espera
que aconteça algo, quando se levanta para pregar em um púlpito? Ou simplesmente
diz para si mesmo: ‘Bem, preparei o meu sermão e vou apresente-lo; alguns dos
ouvintes o apreciarão, outros não’. Você está esperando que o sermão se torne
algo crucial e transformador na vida de alguém? Está preparando que algum dos
ouvintes tenha uma experiência culminante? Esse é o alvo da pregação. Isso é o
que podemos encontrar na Bíblia e na história da igreja. Busque este poder,
espere a manifestação deste poder, anele por este poder; e, quando ele vier,
submeta-se a Ele. Não lhe ofereça resistência. Esqueça-se completamente do seu
sermão, se necessário. Permita-lhe liberar você, permita-lhe manifestar o seu
poder em você e através de você. Tenho a certeza, conforme já disse várias
vezes, que nada terá qualquer valor, exceto o retorno desse poder do Espírito
em nossa pregação. Este poder produz a verdadeira pregação, que é a maior
necessidade de todos nós hoje – mais do que nunca. Nada pode substituir este
poder. Contudo, uma vez outorgado, termos um povo que anelará e será disposto a
ser ensinado, instruído e guiado mais ampla e profundamente à verdade, que está
‘em Cristo Jesus’. Esta ‘unção’ é o fator supremo. Busque-a, até que a possua.
Não se contente com nada menos do que isso. E prossiga até dizer: “A minha
palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de
sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder”. Ele “ainda é capaz de
fazer ‘infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos’”.
“Pregue a palavra, esteja preparado a tempo e fora de
tempo...”.
– 2 Timóteo 4. 2a NVI
Soli Deo Gloria!
Fabio Campos
_____________________________
Ficha
técnica:
Autor: D. Martyn
Lloyd-Jones
Paginas: 302
Editora: Fiel
Outubro de 2008
OBS:
Todas as citações [“”] foram extraídas do próprio livro [“Pregação &
Pregadores”] exceto as citações bíblicas as quais foram introduzidas pelo autor
da resenha [Fabio Campos] apenas para trazer luz ao objetivo do contexto.