Por Pr. Silas Figueira
“Esta é uma palavra fiel: se alguém deseja o
episcopado, excelente obra deseja. Convém, pois, que o bispo seja
irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro,
apto para ensinar”. (1Tm 3.1-2 – ACF)
“Olhai, pois, por vós, e por todo o
rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a
igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue. Porque eu sei isto
que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não
pouparão ao rebanho” (At 20.28-29 –
ACF)
Creio que a vida do
pastor começa com o seu chamado. Muitos
pensam que é o seminário que faz o pastor, mas não é. O papel do seminário é a
formação acadêmica do vocacionado. Erwin Lutzer define o chamado pastoral assim: O chamado de Deus é uma
convicção interior, dada pelo Espírito Santo e confirmada pela Palavra e pelo
corpo de Cristo. Agora é bom
deixar claro que existe o pastor chamado e o chamado pastor. O primeiro é vocacionado por Deus, já o
segundo se auto vocaciona.
A
vocação para o pastorado é a mais sublime de todas as vocações. O Rev. Hernandes Dias Lopes citando John
Jowett diz: “que vocação pastoral
não acontece quando você busca fazer medicina, e não consegue passar no
vestibular; corre para engenharia, e não logra êxito; bate à porta de outro
curso universitário, e também fracassa; então, conclui que Deus está abrindo a
porta do ministério. Ao contrário,
vocação pastoral é quando todas as
outras portas estão abertas, mas você só anseia entrar pela porta do
ministério. O chamado de Deus é irrevogável e intransferível. Quando ele chama, chama eficazmente. Os vocacionados não são profissionais, frutos
de uma decisão meramente humana nem são sacerdotes separados por uma herança
familiar. São homens separados com um propósito divino”.
CARACTERÍSTICAS DO CHAMADO
Certamente nem todos são
chamados por Deus da mesma maneira. Deus chama pessoas diferentes, em circunstâncias
diferentes, em idades diferentes, para ministérios diferentes. Ao olharmos para
os homens de Deus, tanto no Antigo
Testamento quanto no Novo
Testamento, encontramos pessoas com diversos chamados. O chamado de Deus
é intransferível, irrevogável e é uma chamada eficaz. Com ele obtemos a firmeza
de propósito para o ministério sem olhar para trás.
Como já falamos o chamado
não ocorre da mesma maneira com todos os vocacionados. Para
algumas pessoas a chamada pode ser repentina; para outras, pode ser gradativa.
Uma pessoa pode não sentir nenhum chamado até ser incentivada por outras
pessoas. Veja o exemplo de Eliseu:
“Partiu, pois, Elias dali, e achou a Eliseu, filho
de Safate, que andava lavrando com doze juntas de bois adiante dele, e ele
estava com a duodécima; e Elias passou por ele, e lançou a sua capa sobre ele.
Então deixou ele os bois, e correu após Elias; e disse: Deixa-me beijar a meu
pai e a minha mãe, e então te seguirei. E ele lhe disse: Vai, e volta; pois,
que te fiz eu? Voltou, pois, de o seguir, e tomou a junta de bois, e os matou,
e com os aparelhos dos bois cozeu as carnes, e as deu ao povo, e comeram; então
se levantou e seguiu a Elias, e o servia”. (1Re
19.19-21 – ACF)
O exemplo da vida de
Elizeu se repetiu na vida do jovem teólogo João Calvino. Diz a
história que João Calvino passou
a noite em Genebra depois que o
inflamado pregador Ferrel lhe apontou o
dedo e disse: “Se você não ficar
aqui em Genebra e não ajudar o movimento da Reforma, Deus o amaldiçoará!”.
É certo que foi algo incomum, mas será
que alguém discorda de que Calvino fora chamado por Deus para ministrar em
Genebra? Pergunta Lutzer.
Outro exemplo que temos é
o chamado de Jeremias, que foi chamado por Deus ainda criança.
“Assim veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo:
Antes que te formasse no ventre te conheci, e antes que saísses da madre, te
santifiquei; às nações te dei por profeta. Então disse eu: Ah, Senhor DEUS! Eis
que não sei falar; porque ainda sou um menino” (Jr 1.4-6 – ACF)
O apóstolo Paulo teve um
chamado direto apesar de ser perseguidor da Igreja.
“E Saulo, respirando ainda ameaças e mortes contra
os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote. E pediu-lhe cartas para
Damasco, para as sinagogas, a fim de que, se encontrasse alguns daquela seita,
quer homens quer mulheres, os conduzisse presos a Jerusalém. E, indo no
caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou um
resplendor de luz do céu. E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia:
Saulo, Saulo, por que me persegues? E ele disse: Quem és, Senhor? E disse o
Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os
aguilhões. E ele, tremendo e atônito, disse: Senhor, que queres que eu faça? E
disse-lhe o Senhor: Levanta-te, e entra na cidade, e lá te será dito o que te
convém fazer” (At 9.1-6 – ACF).
“E, servindo eles ao Senhor, e jejuando,
disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os
tenho chamado” (At 13.2 – ACF)
“Por isso, ó rei Agripa, não fui
desobediente à visão celestial. Antes anunciei primeiramente aos que estão em
Damasco e em Jerusalém, e por toda a terra da Judéia, e aos gentios, que se
emendassem e se convertessem a Deus, fazendo obras dignas de arrependimento” (At 26.19-20 – ACF)
No entanto, vemos algo
comum em todos eles, foi o Senhor quem os comissionou. Com isso podemos
aprender algumas lições:
O Senhor é quem dá
pastores à Sua Igreja. Ao
olharmos para a vida dos comissionados pelo Senhor através da lente das
Escrituras Sagradas, nós encontramos pessoas que questionaram o seu
chamado, pois não se viam capazes para realizar tão grande obra. Eram pessoas
que, humanamente falando, não tinham condições de exercer o chamado divino. Mas
com isso aprendemos que quem comissiona
também capacita. Vejamos alguns exemplos bíblicos. Moisés era pesado de língua - gago (Êx 4.10); Jeremias não passava de uma criança (Jr 1.6); Paulo se considerava o menor dos apóstolos e
o maior dos pecadores, no entanto
o Senhor o colocou no lugar de maior honra na história da Igreja. Pedro se via como um homem pecador (Lc 5.8-10). Aprendemos com esses exemplos que nenhum pastor pode fazer a obra do
Senhor de forma eficaz com altivez e orgulho. A soberba precede a ruína. A
vaidade é a antessala do fracasso. Toda glória que não é dada a Deus é
glória vazia. Não estamos no ministério porque somos alguém, estamos para
anunciar o único que é digno de receber toda honra, glória e louvor. Estamos no ministério mediante a graça de
Deus e não por capacidade humana.
Deus dá Pastores à Sua
Igreja. Em Efésios 4.11, nós encontramos a relação de cinco ministérios específicos, apóstolos,
profetas, evangelistas, pastores e mestres. A maioria dos teólogos
entende que pastores e mestres
constituem um só ofício com
dupla função. O pastor ensina e
exorta. A sua função é
alimentar, cuidar, proteger, vigiar e consolar as ovelhas (At 20.28-30). Embora todo pastor deva ser mestre, nem todo
mestre é pastor. Atualmente nós temos visto uma distorção em relação ao
que realmente seja ser pastor e pastorear.
Para muitos o pastorado é
simplesmente um status. Um título que foi alcançado através do estudo em
um seminário. Por isso que encontramos muitos pastores incrédulos; e por não
ter fé, o pastor incrédulo tem que direcionar seu ministério e seu culto para
áreas onde sua incredulidade passe mais despercebida. Daí, a liturgia
formalista, o ritual litúrgico elaborado, as recitações, as fórmulas, os
paramentos, as cores, os símbolos, tudo voltado para ocupar os sentidos de
maneira que a fé não faça falta. Não estou afirmando que toda igreja com
liturgia formalista seja necessariamente liderada por um pastor sem fé; apenas
que é mais fácil disfarçar a incredulidade em custos assim.
Mas se existe o infiel,
existem também os fiéis. Os que levam Deus a sério e o seu chamado para o
ministério. São homens que deixaram seus projetos para realizar o projeto de
Deus. Que abraçaram a causa do Mestre sabendo
que o que estavam fazendo era para glória, honra e louvor do Senhor dos
senhores apenas. Homens que podem falar
como o apóstolo Paulo:
“Mas em nada tenho a minha vida por preciosa,
contanto que cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do
Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus” (At 20.24 - ACF)
“Porque convém que o bispo seja irrepreensível,
como despenseiro da casa de Deus, não soberbo, nem iracundo, nem dado ao vinho,
nem espancador, nem cobiçoso de torpe ganância; Mas dado à hospitalidade, amigo
do bem, moderado, justo, santo, temperante; Retendo firme a fiel palavra, que é
conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã
doutrina, como para convencer os contradizentes” (Tito 1.7-9 – ACF)
Notas:
1 – Lutzer, Erwin. De Pastor Para Pastor. Ed. Vida,
São Paulo, SP, 2001: p. 14.
2 – Lopes, Hernandes
Dias. De: Pastor A: Pastor. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2008: p. 35.
3 – Lutzer, Erwin.
De Pastor Para Pastor. Ed. Vida, São Paulo, SP, 2001: p. 16.
4 - Lopes, Hernandes Dias. De: Pastor A: Pastor.
Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2008: p. 38.
5 – Lopes, Augustus Nicodemus. O Que Estão Fazendo
Com a Igreja. Ed. Mundo Cristão, São Paulo, SP, 5ª Reimpressão, 2010: p. 76.