Por Fabio Campos
Texto
base: “Vão aprender o que
significa isto: ‘Desejo misericórdia, não sacrifícios”
(Mt. 9: 13 NVI)
Por muitas vezes esquecemos de fato o
real motivo da vinda de nosso Senhor e os propósitos de Deus a respeito da
encarnação do Verbo. Talvez seja esta a advertência feita por Jesus direcionada
aos fariseus. O comentário bíblico Moody
traz uma nota muito interessante acerca deste versículo: “Uma atitude misericordiosa para com os espiritualmente necessitados é
muito melhor do que a mera formalidade nas obrigações religiosas (sacrifício)
sem nenhuma preocupação com os outros”.
Infelizmente vemos nos dias de hoje
uma teologia sem misericórdia. E isso não está restrito apenas a um grupo. São
em todos! Alguns calvinistas só sabem pregar a respeito de “eleição” e “predestinação”.
Tratam os que discordam de sua teologia com desdém! O reformador inglês John
Bradford, cujas palavras eram frequentemente citadas por Whitefield diz: "Que o homem vá primeiro à escola
secundária da fé e do arrependimento, antes de ir à universidade da eleição e
da predestinação". Sabias palavras e dica preciosa aos pregadores que
não tem outro tema para ser pregado.
Do outro lado também é verdade.
Alguns arminianos tem a prepotência messiânica. Pensam que vão salvar o mundo
por meio do esforço de seu braço. Acham que escolheram a Deus e não Deus que os
escolheram. Pregam por diversas vezes uma “graça legalista”. Acreditam que
podem no seu esforço “cuidar da sua salvação” (não me refiro ao ato de se
santificar).
Creio ser esta a queixa de Jesus para
com os fariseus: “pregam com a teologia, mas esquecem do coração”. Esquecem-se
da misericórdia de Deus que alcança todos os povos. Não cabe ao homem saber
quem Deus escolheu, mas sim pregar o evangelho a todos, e aqueles que de fato
foram chamados, também serão justiçados pela fé, a qual vem por intermédio da
palavra, pregada pelos filhos de Deus.
Lendo o livro de Jonas, percebi seu
anseio em enquadrar Deus dentro do seu conceito teológico: “Jonas, porém, ficou profundamente
descontente com isso e enfureceu-se. Ele orou ao Senhor: ‘Senhor, não foi isso
que eu disse quando ainda estava em casa?” (Jn. 4:1-2 NVI).
Jonas ficou furioso com Deus por ter Ele agido de misericórdia para seus
inimigos. O “predestinado” e “eleito” Jonas, junto a seus irmãos
“hipercalvinistas”, de forma alguma queriam que Deus usasse de misericórdia
para os ninivitas. Os fariseus ficaram perplexos com a atitude de Jesus ter chamado
Mateus, um publicano odiado, que prestava serviço a Roma cobrando impostos dos
Judeus, para participar de uma refeição. O pensamento deles era de que “nós
somos o povo escolhido; como pode Deus chamar a esse povinho, eles não conhecem
as 95 teses de Lutero, nunca leram as institutas de Calvino, tampouco sabem a
confissão Belga, o catecismo de Heidelberg e o Cânones de Dort. Tem outra cousa
ainda, discordam em alguns pontos do catecismo de Westminster”.
Meu amigo e irmão Renan Lima,
Calvinista, expressou bem este tipo de atitude, a qual tem uma teologia
maravilhosa, mas sem misericórdia: “Se, à
parte da verdadeira fé em Jesus Cristo, eu julgo ser necessário professar as
"doutrinas reformadas", o "calvinismo-de-cinco-pontos", o
"puritanismo inglês do século XVII", o "teonomismo
genebrino" etc, o que eu prego, na verdade e na prática, é a salvação
pelas obras e nada mais”. O reformador João Calvino deixou uma dica
preciosa à igreja nesta frase: “Não
fechemos, pois, por nossa desumanidade, a porta da misericórdia de Deus, a qual
se apresenta a nós tão liberalmente”. O pensamento de Jonas estava com base
na natureza egocêntrica do homem: “Eu
sabia que tu és Deus misericordioso e compassivo, muito paciente, cheio de amor
e que prometes castigar, mas depois de arrependes” (Jn.
4: 2 NVI). Portanto, a natureza humana deseja vingança, ira, que fogo dos céus
caia sobre os samaritanos “heréticos” que discordam da teologia farisaica. Ao
contrario, Deus deseja misericórdia; não destruir o que está caído, mas
restaurar, por amor ao seu nome.
Em minha opinião, a teologia
calvinista é o método mais coerente para a interpretação das Escrituras. Admiro
os puritanos, tento honrar os reformadores por meio dos meus ensinos. Mas acima
de tudo, existem pessoas! Nossa teologia tem que ser ensinada com o coração,
com base na misericórdia. Disto Deus se agrada! Antes de ser chamado de
Calvinista, Luterano, dizer que se é de Paulo ou de Pedro, logo prefiro ser
chamado de filho de Deus, apenas porque Cri!
Deus usa todos os métodos, e bem como
disse o reformador John Bradford, deixemos para os acadêmicos esses assuntos controvertidos
a despeito da eleição e predestinação diante do publico de Nínive; passemos a
ministrar o arrependimento, perdão, e justificação para todo aquele que crer.
Tem gente mais interessado em defender seu conceito teológico do que edificar
vidas! Pois é isto que agrada o autor da vida:
“Mas o Senhor lhe disse: ‘você tem pena dessa planta (talvez
sua tese de mestrado; grifo Fabio:), embora não a tenha podado nem a tenha feito crescer. Ela nasceu
numa noite e numa noite morreu. Contudo, Nínive tem mais de cento e vinte mil
pessoas que não sabem nem distinguir a mão direita da esquerda, além de muitos
rebanhos. Não deveria eu ter pena dessa grande cidade (pessoas, homens criados a imagem e semelhança de Deus; Grifo
Fabio:)?” Jn. 4: 10-11 NVI
Pense nisso meu
amado irmão em Cristo. Seja um estudioso! Mas coloque paixão por Deus em sua
teologia. Demonstre essa verdade em suas atitudes no seu dia-a-dia, em
compaixão com a miséria humana. Talvez aquele que você diz não ser um eleito
nem predestinado, possa ser ele um escolhido deste a eternidade passada. Deus
não desistiu de Nínive, pois Ele deseja misericórdia ao invés de sacrifícios!
SOLI DEO GLORIA!
Fabio Campos