Paul Tripp
Quais os sinais que se produzem no coração de
um pastor atemorizado diante de Deus, que são vitais para um ministério eficaz,
produtivo e que honra a Deus?
1°. Humildade
Não
há nada que se compare ao estar indefeso diante da maravilhosa glória de Deus,
para colocar-lhe em seu devido lugar, para corrigir a maneira com que você se
vê pessoalmente, para arrancar-lhe da sua arrogância funcional, e para
tirar-lhe o vento das velas da sua justiça própria. Diante de Sua glória, eu me
sinto despido, sem qualquer glória que ainda possa restar-me a fim de que eu
possa exibir-me diante de outros. Enquanto eu me compare com outros, poderei
sempre encontrar outra pessoa cuja existência parece fazer-me, por comparação,
mais justo. Mas se eu comparar meus panos imundos ao puro linho, eternamente
sem manchas, da justiça de Deus, eu correria a esconder-me com um coração
dilacerado e envergonhado.
E isto foi o que aconteceu com Isaías no
capítulo seis. Ele está diante do majestoso trono da glória de Deus e diz:
"Ai
de mim! Estou perdido! Porque sou um homem de lábios impuros, habito no meio de
um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos
Exércitos." (Isaías 6.5). Isaías não está falando aqui em termos de
uma formal hipérbole religiosa. Ele não está buscando tornar-se agradável
diante de Deus por mostrar-se "ó, tão humilde". Não; Isaías
aprendeu que só à luz da colossal glória e santidade de Deus, é que você poderá
ter uma visão exata e correta de si mesmo e entender a profunda necessidade de
ser resgatado com o resgate que só a graça gloriosa de Deus poderá prover-lhe.
Com o correr do tempo durante sua vida ministerial, muitos pastores
chegam a se esquecerem de quem são eles. Têm uma visão inchada, destorcida,
grandiosa de si mesmos, que os mantêm altamente inacessíveis, e que lhes
permitem justificar seus pensamentos, seus desejos, as coisas que dizem, e a
fazerem aquilo que, biblicamente, não é justificável fazer. Eu já "estive
lá" e, de quando em quando, caio outra vez no mesmo erro. Em ocasiões como
essas, eu tenho que ser resgatado de mim mesmo. Quando você está sobremodo
maravilhado de si mesmo, você se posiciona para ser hipócrita, controlador,
super confiante, e um autocrata eclesiástico extremamente crítico. Você,
inadvertidamente, constrói um reino em cujo trono você mesmo se assenta, não
importa o quanto afirme que tudo o que você faz, o faz para a glória de Deus.
2°. Sensibilidade
A
humildade, que só este sentir atemorizante de Deus pode produzir no meu
coração, cria em mim, sensibilidade pastoral para com as pessoas que carecem da
mesma graça. Ninguém pode compartilhar graça melhor do que aquele que está
profundamente convencido de que ele mesmo necessita esta graça, e a recebe de
Cristo. Esta sensibilidade me faz afável, gentil, paciente, compreensivo e
esperançoso diante do pecado alheio, sem nunca comprometer o chamamento santo
de Deus. Protege-me de estimativas como "... não acredito que você
pudesse fazer uma coisa dessas!," o que, diga-se, me faz
essencialmente diferente de todos os demais. É difícil apresentar o Evangelho a
alguém, quando você está contemplando esse alguém, com superioridade.
Confrontar os pecados dos outros com uma sensibilidade inspirada em meu
assombro diante Deus, me livra de ser um agente de condenação, ou de esperar
que a lei cumpra aquilo que somente a graça pode cumprir, e me motiva a ser um
instrumento dessa graça.
3°. Paixão
Não
importa o que está funcionando, ou o que não está funcionando bem em meu
ministério, não importa quais as dificuldades que eu esteja vivendo, ou
tampouco importa as lutas pelas quais eu esteja passando, a influente glória de
Deus me anima a levantar-me pela manhã e fazer aquilo para o qual fui dotado e
chamado para fazer, e fazê-lo com entusiasmo, coragem e confiança. Minha
alegria não se deixa maniatar pelas circunstâncias ou pelos relacionamentos, e
meu coração não é tomado por qualquer direção em que ditas circunstâncias e
relacionamentos o queiram levar. Tenho toda razão para alegrar-me porque sou um
filho escolhido, e um servo recrutado pelo Rei dos reis, e Senhor dos senhores,
o grande Criador, o Salvador, e meu Chefe. Ele está sempre perto e é sempre
fiel. Minha paixão pelo ministério não depende de como eu esteja sendo
recebido. Minha paixão flui da realidade de que eu fui recebido por Ele. Não me
entusiasmo porque as pessoas possam gostar de mim, mas porque Ele me tem
aceitado e me tem enviado. Não estou apaixonado por meu ministério, por ser, o
ministério, algo glorioso, mas sim porque Deus é eternamente e imutavelmente
glorioso. Assim eu prego, ensino, aconselho, lidero e sirvo com uma paixão
evangélica que inspire e acenda o mesmo sentir naqueles ao meu redor.
4. Confiança
Confiança
- aquele sentimento de bem-estar e de capacitação, me vem de conhecer Aquele a
quem sirvo. Ele é minha confiança e minha habilidade. Ele nunca irá chamar-me
para uma tarefa para a qual não me tenha capacitado. Ele tem mais zelo pela
saúde de sua igreja do que eu jamais poderia ter. Ninguém tem maior interesse
no uso dos meus dons do que Aquele que me outorgou ditos dons. Ele está sempre
presente e sempre de boa vontade. Ele é todo-poderoso e todo onisciente. Ele é
ilimitado em amor e glorioso em sua graça. Ele não muda; para sempre é fiel.
Sua Palavra nunca cessará de ser a verdade. Seu poder para salvar nunca será
exaurido. Seu governo nunca deixará de existir. Nunca será conquistado por algo
maior do que Ele mesmo. Assim, eu posso fazer com confiança tudo o que Ele me
chamou para fazer, não em virtude de quem eu seja, mas porque Ele é o meu Pai,
e é glorioso em todos os aspectos, em todos os sentidos.
5°. Disciplina
O
ministério pastoral, nem sempre é glorioso. Muitas vezes as suas expectações
ingénuas, são apenas isso – ingenuidade.
E
algumas vezes se levará mais do que um ministério de sucesso e a apreciação do
povo para arrancar-lhe da cama e cumprir o seu chamado. Outras vezes você não
verá muitos frutos como o resultado de seus esforços e tampouco terá muitas
esperanças de uma colheita breve e abundante. Algumas vezes você se verá traído
e se sentirá sozinho. Então, a sua disciplina precisa estar arraigada em alguma
coisa mais profunda do que sua avaliação horizontal de como as coisas pareçam
estar caminhando. Eu estou cada vez mais convencido, em minha própria vida, de
que uma auto-disciplina robusta e firme, do tipo essencial para um ministério
pastoral, está solidificada na adoração. A gloriosa existência de Deus, Seu
caráter, Seu plano, Sua presença, Suas promessas e Sua graça, me fornecem a
motivação para trabalhar com ardor e nunca desistir, sem importar-me se estamos
vivendo sob um tempo de amenidade, ou se estamos sob uma época tempestuosa.
6°. Repouso
Finalmente,
enquanto contemplo minha própria fraqueza e os distúrbios da igreja local, o
que poderá trazer verdadeiro repouso ao meu coração? A Glória! Esta lhe dará
repouso. É o conhecimento de que nada é tão difícil para o Deus a quem você serve.
É a segurança de que todas as coisas são possíveis para Ele. É saber, como
Abraão, que Aquele que fez todas aquelas promessas, é fiel para cumpri-las.
Ainda que pareça haver múltiplas razões no nível horizontal para fazer-nos
ansiosos, eu não permitirei que meu coração seja raptado por preocupação ou
medo, porque o Deus de inestimável glória, que me tem enviado, Ele mesmo
prometeu: "Eu serei contigo." Eu não tenho que fazer joguinhos
mentais comigo mesmo. Eu não tenho que negar, nem minimizar a realidade a fim
de que me sinta bem, porque Ele já tem invadido minha existência com Sua
glória, e eu posso descansar até mesmo, e de certa forma, no conceito truncado
do "já" e do "não ainda" cumprido e
realizado.
Recuperando nossa perplexidade diante de
Deus
Em
conclusão, eu não tenho uma fórmula de estratégias para lhe oferecer. Mas lhe
aconselho a correr agora, e correr rapidamente ao seu Pai de aterrorizante
glória. Confesse a ofensa do seu tédio ministerial. Ore e peça por olhos
abertos aos 360 graus, 24 horas por dia, 7 dias por
semana, para que você veja a exibição da glória à qual você tem estado cego.
Determine-se dedicar uma porção de cada dia para meditar na glória de Deus.
Clame, busque com vigor a ajuda de outros e lembre-se de estar agradecido por
Jesus quem lhe oferece Sua graça, mesmo ainda naqueles momentos quando essa
graça não é, nem no mínimo, gloriosamente valiosa para você como deveria ser.
Paul Tripp é o presidente de Paul Tripp Ministries,
organização sem fins lucrativos cujo slogan de missão é "Conectando o
poder transformador de Jesus Cristo à vida diária". É também professor de
vida e cuidado pastoral no Redeemer Seminary, em Dallas (Texas), e diretor
executivo do Center for Pastoral life and Care, em Fort Worth (Texas). É casado
há muitos anos com Luella, e têm quatro filhos adultos.